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MARINA SILVA
Haiti, Zilda Arns e nós
CATÁSTROFES da magnitude
da que atingiu o Haiti podem
ter dois desdobramentos: o
desfecho trágico, sacramentando o
fim de um povo ou de uma nação,
ou, pelo contrário, um grande recomeço. Já vimos exemplos assim.
Povos foram varridos por cataclismos e guerras. Mas, por outro
lado, nações se ergueram mais belas, mais justas, mais fortes, após
viverem a mais avassaladora destruição. Podemos citar como
exemplo os países atingidos em
2004 por um terrível tsunami, o
que levou à maior mobilização de
solidariedade global já vista.
As imagens da capital haitiana
são de aniquilação e desespero.
Mas o espírito de solidariedade que
tem condoído as pessoas pelo
mundo ante a situação no Haiti
aponta para esse outro desfecho, o
da reconstrução e do recomeço.
Governos, agências humanitárias, ONGs, igrejas, empresas, doadores e voluntários de todas as nacionalidades se movimentam para
salvar os haitianos não só dos efeitos do terremoto mas também da
situação de miséria extrema. A onda de solidariedade terá que ser
maior do que o abismo em que o
Haiti foi lançado. E isso é possível.
A morte, no Haiti, da médica brasileira Zilda Arns, fundadora e
coordenadora da Pastoral da
Criança, pode apontar para esse recomeço. Morrer no país mais necessitado das Américas, onde lançava sementes de solidariedade, foi
o desfecho de sua maravilhosa missão: nesses 27 anos, seu trabalho livrou do fim certo um número incalculável de crianças e mães.
Assim, o capítulo final da vida de
Zilda Arns pode representar uma
espécie de chamado.
Pois quando
perdemos alguém com a sua estatura, alguém insubstituível, só há a
alternativa de muitos de nós somarem os esforços para manter sua
missão em atividade. Simbolicamente, seu exemplo nos une ainda
mais com o esforço para mudar a
história daquele país.
Inspirador também o heroísmo
dos soldados das Forças Armadas
brasileiras que atuam na missão de
paz das Nações Unidas. Imediatamente após o terremoto, eles já estavam em busca de sobreviventes,
arriscando suas próprias vidas.
Não é difícil ouvir pelo Brasil
que, se temos tantos problemas,
não deveríamos dar tanta atenção
a outro país. Mas a verdade é que
socorrer o Haiti é responsabilidade
de toda a comunidade internacional, e particularmente do Brasil,
que lá mantém uma força de paz.
E ajudar vigorosamente o Haiti
também nos trará benefícios. Estaremos mais bem preparados para
lidar com nossos próprios problemas, tenham eles raiz na desigualdade social ou em causas naturais.
Que saibamos responder ao
exemplo de Zilda Arns, que, tendo
feito tanto aqui, não se esqueceu
dos que sofrem em outras nações.
contatomarinasilva@uol.com.br
MARINA SILVA escreve às segundas-feiras nesta coluna.
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