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FERNANDO RODRIGUES
Desorientação patética
BRASÍLIA - É quase catastrófica a atuação do PT e do governo Lula na
atual crise. Há erro de estratégia e tática. O principal e único coordenador
político, José Dirceu, está abatido, enfraquecido. Abriu-se um vácuo. Ninguém teve competência nem coragem para preencher.
Um exemplo é uma pérola existente
entre os argumentos contra uma CPI
para o caso Waldomiro Diniz. Para o
governo, não é necessário CPI, porque o fato ocorreu em 2002.
"Não foi apontada nenhuma irregularidade durante o atual governo",
disse José Dirceu. Ainda não foi possível precisar de qual cabeça saiu esse
raciocínio. O fato é que Dirceu o encampou. A indigência do argumento
se dá por duas razões.
Primeiro, porque se aparecer algum
indício de que Waldomiro Diniz
aprontou em 2003 o Planalto estaria
obrigado a apoiar uma CPI.
Segundo, a estratégia também é
ruim porque os petistas no Congresso
decidiram apoiar a CPI de Waldomiro somente se for possível ampliar a
investigação para o financiamento
de outras campanhas, inclusive as
dos anos de FHC no Planalto.
Como assim? Não se deve investigar
porque o caso é de 2002, mas, se houver CPI, deve-se voltar até o início da
década de 90? Eis aí o pensamento
helicoidal petista em estado puro.
Essa desorientação patética, até cínica na sua estrutura, ocorre porque
prevalece nos últimos dias mais o
pensamento petista, do partido, do
que o do Palácio do Planalto. É um
paradoxo que o principal atingido
pelo escândalo, José Dirceu, seja exatamente o personagem que mais faça
falta a Lula nesta crise.
Apesar desse "bate cabeças" dos governistas, ainda é improvável que
uma CPI seja instalada. O governo
tem um poder enorme de convencimento na base da fisiologia. O processo está em curso. Tem tudo para
dar certo. Só fatores imponderáveis e
intangíveis podem mudar esse rumo.
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