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PLÍNIO FRAGA
Lei de Incentivo à Candura
RIO DE JANEIRO - Neste Brasil, é
bem pacata a mocidade, não anda
armada nem sequer de canivete.
Enquanto os outros têm batalhas
de verdade, nossas batalhas são batalhas de confete. Nós vivemos no
melhor pedaço da Terra, calma no
Brasil que a Europa está em guerra.
Assim cantava-se nos carnavais
de mais de 60 anos atrás a marchinha "Calma no Brasil" , de Nássara
e Frazão -uma das músicas resgatadas em "Sassaricando", espetáculo que superlotou teatro carioca.
A realidade parece ter multiplicado a letra da marchinha por menos
um: a Europa não está mais em
guerra nem vivemos no melhor pedaço Terra. E grande parte da mocidade está alistada numa batalha em
que canivete não é mais arma nem
de pivetes -que preferem pistolas
(leves e fáceis de manejar).
Ninguém canta mais a marchinha de Nássara e Frazão. É Carnaval, esse idílio de democracia social,
demonstrador da vocação do brasileiro para a alegria, este porre anual
de felicidade. Haverá quem lembre
que as escolas de samba não são
mais como antigamente, quem reclame de que os sambas estão acelerados, os carros, gigantescos demais, as mulheres, vestidas demais.
A saudade é instituição nacional.
Haverá quem reclame de que os
brancos da zona sul tomaram conta
dos blocos de rua do Rio e que diga
que Carnaval bom era no tempo do
bonde. Saudosista é uma profissão.
É Carnaval. Mesmo os reclamões
irão se divertir e tentar preservar/
reconstruir/salvar as relações sociais de uma cidade encantada por
si, maltratada por todos.
A regra que vale nos próximos
dias poderia ser batizada de Lei
João Bosco/Aldir Blanc de Incentivo à Candura: "Não põe corda no
meu bloco, nem vem com teu carro-chefe, não dá ordem ao pessoal. Não
traz lema nem divisa, que a gente
não precisa que organizem nosso
Carnaval".
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