São Paulo, domingo, 18 de fevereiro de 2007

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PLÍNIO FRAGA

Lei de Incentivo à Candura

RIO DE JANEIRO - Neste Brasil, é bem pacata a mocidade, não anda armada nem sequer de canivete. Enquanto os outros têm batalhas de verdade, nossas batalhas são batalhas de confete. Nós vivemos no melhor pedaço da Terra, calma no Brasil que a Europa está em guerra.
Assim cantava-se nos carnavais de mais de 60 anos atrás a marchinha "Calma no Brasil" , de Nássara e Frazão -uma das músicas resgatadas em "Sassaricando", espetáculo que superlotou teatro carioca.
A realidade parece ter multiplicado a letra da marchinha por menos um: a Europa não está mais em guerra nem vivemos no melhor pedaço Terra. E grande parte da mocidade está alistada numa batalha em que canivete não é mais arma nem de pivetes -que preferem pistolas (leves e fáceis de manejar).
Ninguém canta mais a marchinha de Nássara e Frazão. É Carnaval, esse idílio de democracia social, demonstrador da vocação do brasileiro para a alegria, este porre anual de felicidade. Haverá quem lembre que as escolas de samba não são mais como antigamente, quem reclame de que os sambas estão acelerados, os carros, gigantescos demais, as mulheres, vestidas demais. A saudade é instituição nacional.
Haverá quem reclame de que os brancos da zona sul tomaram conta dos blocos de rua do Rio e que diga que Carnaval bom era no tempo do bonde. Saudosista é uma profissão.
É Carnaval. Mesmo os reclamões irão se divertir e tentar preservar/ reconstruir/salvar as relações sociais de uma cidade encantada por si, maltratada por todos.
A regra que vale nos próximos dias poderia ser batizada de Lei João Bosco/Aldir Blanc de Incentivo à Candura: "Não põe corda no meu bloco, nem vem com teu carro-chefe, não dá ordem ao pessoal. Não traz lema nem divisa, que a gente não precisa que organizem nosso Carnaval".


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