São Paulo, domingo, 18 de fevereiro de 2007

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

O triste quadro da educação

AS AUTORIDADES se gabam de que, hoje em dia, todas as crianças estão na escola. Isso é importante, sem dúvida, mas, para a economia e a cidadania, entrar na escola é muito pouco. O essencial é concluir a escola, e mais crucial é aprender. É acaciano dizer que a boa escola é aquela que ensina e onde os alunos aprendem.
Mas é isso mesmo.
Na semana passada, foi triste verificar a repetição de um quadro lamentável. Trata-se dos resultados dos exames de avaliação realizados pelo Ministério da Educação. A situação, que já era ruim em 1995, piorou muito em 2005.
Nas provas do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), numa escala de 0 a 500, os alunos de quarta série obtiveram uma média de 188 pontos em português no ano de 1995, tendo caído para 172 em 2005. Os da 8ª série baixaram de 256 para 231, e os da 3ª série, de 290 para 257! Em matemática, a queda foi igualmente preocupante. Os da 4ª série passaram de 190 para 182; os da 8ª série, de 253 para 239; e os da 3ª série, de 281 para 271.
Nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2006, os resultados foram também desapontadores. Em uma escala de 0 a 100, a média nacional dos alunos em português foi de apenas 37 pontos, menor que em 2005, que já tinha sido muito ruim -39 pontos.
Esse é um problema de extrema gravidade. A produtividade da economia depende fortemente da competência dos cidadãos, e esta depende da qualidade da educação.
Embora tenhamos no Brasil várias ilhas de excelência, a produtividade média é baixa, e a distância em relação a outros países está aumentando. Em 1970, a produtividade da Coréia do Sul era de 20% da produtividade dos Estados Unidos, e a do Brasil era de 33%. Hoje, a produtividade da Coréia do Sul subiu para 44%, e a do Brasil baixou para 24%. Estamos ficando longe dos nossos concorrentes.
É difícil competir no mundo globalizado, onde a corrida em direção à eficiência é frenética e contínua. Da mesma forma, é difícil construir uma democracia com base em pessoas de pouco discernimento.
Os que não entendem o que lêem geralmente não entendem o que escutam, o que os impede de separar o joio do trigo, a mentira da verdade, a promessa vã das possibilidades reais.
A falta de capacidade crítica eleva os erros e faz do eleitor uma presa dos jogos emocionais. Se a escolha é difícil, mais difícil ainda, para esses eleitores, é cobrar e controlar os governantes. Em suma, não basta entrar e ficar na escola. É preciso aprender a criar, inovar, sugerir, demandar e atuar de modo construtivo. Tudo isso depende de um bom ensino. Já é hora de o nosso governo levar a educação a sério! antonio.ermirio antonioermirio.com.br


ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos domingos nesta coluna.


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