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Editoriais
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A hora da sagração
Congresso petista, que tem início hoje, deverá aclamar Dilma Rousseff, candidata inventada e ungida pelo presidente
O PT REALIZA a partir de
hoje, em Brasília, o seu
4º Congresso Nacional. A relevância política do encontro se deve ao lançamento oficial, pelo partido, da
candidatura de Dilma Rousseff à
Presidência da República, o que
ocorrerá no sábado, quando se
encerra o evento.
Acompanhada por Luiz Inácio
Lula da Silva e, provavelmente,
por boa parte dos atuais ministros, a chefe da Casa Civil deve
discursar, apresentando-se oficialmente aos petistas como a legatária de Lula. Será a primeira
vez, desde 1989, que o PT entrará
numa campanha presidencial
sem ter seu líder histórico como
candidato.
A despeito de rusgas internas e
das previsíveis disputas por cargos na burocracia partidária, o
clima geral do encontro, segundo
as expectativas, deve ser ditado
pela aclamação festiva da ministra. O que parece óbvio, mas
também não deixa de ser irônico.
Sim, porque Dilma Rousseff é
um nome que Lula sacou do bolso do colete. É bem menos uma
candidata do PT do que uma invenção do lulismo, ungida pela
vontade exclusiva do presidente.
Ex-militante de um grupo
clandestino adepto da luta armada, incorporada aos quadros do
PDT sob a influência do brizolismo na década de 1980, Dilma filiou-se ao Partido dos Trabalhadores tardiamente, apenas em
2001, mais de duas décadas depois da sua fundação, em 1980.
Quadro respeitado por suas
virtudes gerenciais e capacidade
técnica, Dilma se projetou politicamente apenas no segundo
mandato de Lula, depois que a
cúpula do PT e as principais figuras do governo no primeiro mandato foram abatidas pelo escândalo do mensalão.
No empuxo do bonapartismo
presidencial, sem capacidade de
interferência na definição da
candidata que irá respaldar, o PT
busca agora conquistar espaço
no desenho da postulação. É
compreensível que o faça, na
tentativa de recobrar algum protagonismo político.
Tem-se presenciado nos últimos dias lances de uma queda de
braço entre PT e Planalto acerca
de ênfases e termos a serem utilizados nas diretrizes do programa
de governo de Dilma -que o partido deve aprovar no congresso.
Na primeira versão do texto do
PT, mencionava-se o "sucesso da
transição que Lula realizou". Revista pelo Planalto, a passagem
se refere agora ao "sucesso alcançado por Lula". Menções elogiosas à estabilidade econômica,
antes ausentes do documento,
foram incorporadas por orientação do presidente.
Paradoxalmente, muitos militantes petistas veem no nome
gerado pelo lulismo uma oportunidade de resgatar bandeiras históricas e programáticas do partido. Dilma teria perfil mais ideológico e seria mais estatizante e
afinada com velhos preceitos de
esquerda do que o atual presidente, um líder de massas pragmático e habilidoso, mas pouco
doutrinário.
Será difícil, no entanto, que o
PT consiga ir muito além do que
Lula deseja. Afinal, embora ausente da cédula, ele é o fiador e o
espelho da candidatura.
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