São Paulo, terça-feira, 18 de março de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES O mandato é do partido
RUY ALTENFELDER
O governador Mário Covas, reserva moral da política brasileira, defendia de maneira ferrenha a tese de que "o instituto da fidelidade partidária é uma necessidade absolutamente indispensável". E justificava: "Admira-me muito que tenhamos eleições proporcionais para as Casas legislativas e, ao mesmo tempo, não tenhamos um instituto de fidelidade partidária extremamente rigoroso, porque o sentido da distribuição da eleição proporcional é exatamente o de conferir o mandato ao partido, e não ao candidato". Claro que Covas estava coberto de razão. Por exemplo: como pode um deputado eleito por um partido que defende a liberalização das leis trabalhistas transferir-se para uma legenda que advoga a manutenção de normas conservadoras para a mesma matéria? Não são raras as ocasiões em que a dança das cadeiras no Parlamento modifica radicalmente a votação de uma lei de grande interesse da sociedade. Como ficam os eleitores prejudicados pela decisão do Congresso, ao verem o parlamentar que elegeram votando contra o discurso do partido pelo qual foi eleito? Na presente legislatura, iniciada em 1º de fevereiro, exemplos como os acima citados deverão se repetir à exaustão, considerando as trocas de legendas verificadas após as eleições e até a véspera da posse. E o Congresso tem atribuições particularmente importantes, pois deverão ser realizadas as reformas necessárias à adequação do arcabouço legal brasileiro, cuja postergação seria intolerável a esta altura, 15 anos após a promulgação da Constituição de 88. Assim, não há nenhum exagero em afirmar que a reforma política, começando pelo instituto da fidelidade partidária, é tão urgente e importante para a nação quanto a previdenciária, a tributária, a fiscal e a trabalhista. Então, por que não implementá-la? Ruy Martins Altenfelder Silva, 63, advogado, é presidente do Instituto Roberto Simonsen. Foi secretário da Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo do Estado de São Paulo (governo Geraldo Alckmin). Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES José Arthur Giannotti: O duro aprendizado da esquerda Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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