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CARLOS HEITOR CONY
O novo e o velho
RIO DE JANEIRO - Mudam-se os
ministros, mas o Brasil continua o
mesmo. Um dos meus espantos é o
da mídia dar importância ao fato de
um cidadão substituir outro na escala do poder.
O colunismo político vive em torno disso: especula sobre quem sai,
quem deve ou precisa sair, sugere
quem entra ou devia entrar. Os problemas sociais, econômicos e políticos da nação e do próprio governo
gravitam em torno de nomes, não
exatamente de planos e idéias.
Para a formação do novo ministério chovem os prognósticos, desabam os palpites que têm uma coisa
em comum: aprovando ou não os
nomes escolhidos, a mídia acredita
que novos rumos serão tomados,
que alguma coisa será revolvida e,
com sorte, alguma coisa possa dar
certo.
Ledo e ivo engano. Tudo continuará como antes e sempre, as mudanças nunca são motivadas por incompetência ou inadequação, mas
por mancadas pessoais de um ministro ou do grupo que o apóia.
Qual a diferença entre um ministério novo e um velho? Apenas a
corriola. Quem continua gerindo o
escalão superior é, por um lado, o
próprio presidente da República e,
de outro, a constelação de influências que se forma em cada área específica. O titular da pasta se reduz
a um executivo dessas duas ingerências. E de sua habilidade em administrar tais ingerências resultará
a sua permanência no cargo.
Análises da formação política do
novo titular são feitas para informar que o novo ministro é de tal escola ou de tal grupo partidário, que os rumos do governo serão assim ou
assado. A mudança de um nome ou
de vários nomes, simultânea ou
fragmentariamente, não altera o
statu quo de uma crise ou de uma
depressão. Os franceses cunharam
uma frase segundo a qual, quanto
mais se muda, mais se tem a mesma
coisa.
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