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CLÓVIS ROSSI
Um prêmio ao fracasso
LONDRES - O presidente Barack
Obama qualificou de "ultraje" pagamentos de US$ 165 milhões a altos
funcionários da seguradora AIG,
que só não foi a pique porque o governo injetou nela imponentes US$
170 bilhões.
Se o Brasil tivesse esse dinheiro
para investir, muito provavelmente
evitaria a falência não de uma mas
de todas as suas empresas.
Nada contra a indignação do presidente. Mas ela deveria dirigir-se,
acima de tudo, aos seus subordinados e a ele próprio, que só ficaram
sabendo pelos jornais dos prêmios
que a AIG pagaria a seus executivos
-e, pior, que o faria por obrigação
contratual, contraída antes do pacote de socorro do governo.
Traduzindo: o governo dá dinheiro sem ter a menor preocupação em
se informar sobre as entranhas da
companhia que está salvando. Assim até eu conseguiria ser um grande capitalista.
É só mais uma evidência de que
todos os pacotes de ajuda oficial à
empresas, nos Estados Unidos, na
Europa ou onde tenham ocorrido,
não passam de estatização do risco
e privatização do lucro.
Os executivos da AIG levaram a
seguradora ao buraco, mas, mesmo
assim, merecem prêmios além dos
salários, que, por si só, já é mais do
que deveriam receber. Afinal, uma
empresa paga salários para que
seus executivos produzam lucros,
não a falência.
Como diz Obama, ainda que muito tardiamente, "não é apenas uma
questão de dinheiro, é sobre valores
fundamentais".
Premiar a violação de "valores
fundamentais" leva à situação assim descrita no editorial de ontem
do "Financial Times", aliás, favorável ao resgate da AIG na época, mas
incomodado agora:
"Nesta crise da incerteza e do
desconhecido, os governos devem
espalhar luz sobre o que estão fazendo. Do contrário, os eleitores -e
os investidores- assumirão [que
estão fazendo] o pior".
crossi@uol.com.br
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