São Paulo, quarta-feira, 18 de março de 2009

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CLÓVIS ROSSI

Um prêmio ao fracasso

LONDRES - O presidente Barack Obama qualificou de "ultraje" pagamentos de US$ 165 milhões a altos funcionários da seguradora AIG, que só não foi a pique porque o governo injetou nela imponentes US$ 170 bilhões.
Se o Brasil tivesse esse dinheiro para investir, muito provavelmente evitaria a falência não de uma mas de todas as suas empresas.
Nada contra a indignação do presidente. Mas ela deveria dirigir-se, acima de tudo, aos seus subordinados e a ele próprio, que só ficaram sabendo pelos jornais dos prêmios que a AIG pagaria a seus executivos -e, pior, que o faria por obrigação contratual, contraída antes do pacote de socorro do governo.
Traduzindo: o governo dá dinheiro sem ter a menor preocupação em se informar sobre as entranhas da companhia que está salvando. Assim até eu conseguiria ser um grande capitalista. É só mais uma evidência de que todos os pacotes de ajuda oficial à empresas, nos Estados Unidos, na Europa ou onde tenham ocorrido, não passam de estatização do risco e privatização do lucro.
Os executivos da AIG levaram a seguradora ao buraco, mas, mesmo assim, merecem prêmios além dos salários, que, por si só, já é mais do que deveriam receber. Afinal, uma empresa paga salários para que seus executivos produzam lucros, não a falência.
Como diz Obama, ainda que muito tardiamente, "não é apenas uma questão de dinheiro, é sobre valores fundamentais". Premiar a violação de "valores fundamentais" leva à situação assim descrita no editorial de ontem do "Financial Times", aliás, favorável ao resgate da AIG na época, mas incomodado agora:
"Nesta crise da incerteza e do desconhecido, os governos devem espalhar luz sobre o que estão fazendo. Do contrário, os eleitores -e os investidores- assumirão [que estão fazendo] o pior".

crossi@uol.com.br


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