São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES A nomeação que não fiz
GERALDO ALCKMIN
Vamos aos fatos. Na ficha funcional do policial em questão consta que ele foi delegado em duas cidades do interior, trabalhou no Dops nos anos da repressão e ficou 12 anos afastado da polícia de São Paulo, trabalhando na Polícia Federal. Quando voltou ao seu local de origem, fê-lo exercendo um direito que qualquer funcionário público tem e que ninguém poderia impedir. E isso aconteceu em 1995, oito anos atrás. Nesse tempo todo, só teve na carreira as promoções que manda a lei, ou seja, pelo critério da antiguidade. Enfim, teve o que lhe deu o "tempo de serviço". E, mesmo com tempo de serviço suficiente, não conseguiu chegar ao topo da carreira, na classe especial, em que o critério exclusivo é o do merecimento. Pela Lei Orgânica da Polícia Civil, delegados de primeira classe, como é o caso desse, têm de ocupar cargos privativos de sua condição, na hierarquia da polícia. E o que ele ocupa não é cargo de livre provimento pelo governador ou pelo secretário da Segurança. Acreditar no contrário, além de agredir a verdade, leva a conclusões precipitadas. Demitir o citado policial seria atropelar a lei. Não é possível, já que seu cargo é o de delegado de polícia que ingressou no serviço público por concurso, o resto são funções administrativas e, em alguma delas, é dever do Estado designá-lo, não há outra opção de emprego, como já se sugeriu. Estranho muito que certas pessoas, mesmo me conhecendo, tenham dado tanto crédito a essa informação falsa que tenta desabonar o meu nome e mais de 30 anos da minha vida pública. Não tolero nem aceito a tortura. Minha história é suficiente para avalizar a afirmação. Comecei a lutar pelos ideais da democracia e da liberdade nos meus tempos de colegial. Ainda estudante de medicina, com 19 anos, em plena era de chumbo da repressão, candidatei-me e fui eleito vereador em Pindamonhangaba, pelo partido que enfrentava a ditadura. No mesmo partido, nas ruas, na Assembléia Legislativa e na Câmara dos Deputados, continuei combatendo pela redemocratização. Assim, depois de ter me arriscado nessa luta, como milhares de brasileiros, não seria agora que acoitaria, ainda que indiretamente, alguém ligado à repressão e à tortura. Geraldo Alckmin Filho, 50, médico, é governador do Estado de São Paulo. Foi deputado federal pelo PSDB de São Paulo (1989-94). Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Geraldo Majella Agnelo: Haverá paz? Índice |
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