São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 2008

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CLÓVIS ROSSI

A mão que não balança (o povo)

ROMA - Análise de Ezio Mauro, diretor do jornal italiano "La Repubblica", sobre a vitória de Silvio Berlusconi: "Bastam uma adesão, um aplauso, uma vibração de consenso, como acontece (...) quando os cidadãos se tornam espectadores e os líderes se convertem em ídolos modernos, (...) talhados à medida da nova demanda, que já não crê em formas eficazes de ação coletiva; ídolos que não indicam o caminho mas se oferecem como exemplo".
Vale para a Itália, vale para tantíssimos países do mundo, vale para o Brasil de Lula. À perfeição, aliás. Qualquer projeto coletivo que o PT possa ter tido evaporou-se com a vitória de 2002, dado como "bravatas" pela "metamorfose ambulante" que então se elegeu.
No mundo todo, a política foi desidratada, o eleitor/cidadão virou mero espectador (no Brasil talvez sempre tenha sido), e ações coletivas estão contidas no âmbito de ONGs, com a limitação de que só têm projetos segmentados.
Conseqüência ou causa do desaparecimento de projetos coletivos: o mundo pende crescentemente para a direita, se esta pode ser tomada como sinônimo de individualismo. A vitória de Berlusconi é apenas o mais recente exemplo. Em toda a Europa, houve primeiro a corrida da esquerda para o centro, o que foi insuficiente para evitar que a direita vencesse os pleitos recentes em todos os países relevantes, exceto na Espanha.
Na Itália, a perplexidade dos comentaristas de centro-esquerda é com a Liga Norte, xenófoba e supostamente de direita, que desbancou a esquerda e levou os votos "do povo, que olha para a direita em busca de proteção", como escreve Renzo Guolo ("La Reppublica").
Como no Brasil, em que Lula só levou os votos do povo quando a metamorfose deambulou para a direita. Há quem aplauda, há quem ache que o sistema, no mundo todo, ficou maneta.


crossi@uol.com.br

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