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CLÓVIS ROSSI
A mão que não balança (o povo)
ROMA - Análise de Ezio Mauro,
diretor do jornal italiano "La Repubblica", sobre a vitória de Silvio
Berlusconi: "Bastam uma adesão,
um aplauso, uma vibração de consenso, como acontece (...) quando
os cidadãos se tornam espectadores
e os líderes se convertem em ídolos
modernos, (...) talhados à medida
da nova demanda, que já não crê em
formas eficazes de ação coletiva;
ídolos que não indicam o caminho
mas se oferecem como exemplo".
Vale para a Itália, vale para tantíssimos países do mundo, vale para
o Brasil de Lula. À perfeição, aliás.
Qualquer projeto coletivo que o PT
possa ter tido evaporou-se com a vitória de 2002, dado como "bravatas" pela "metamorfose ambulante" que então se elegeu.
No mundo todo, a política foi desidratada, o eleitor/cidadão virou
mero espectador (no Brasil talvez
sempre tenha sido), e ações coletivas estão contidas no âmbito de
ONGs, com a limitação de que só
têm projetos segmentados.
Conseqüência ou causa do desaparecimento de projetos coletivos:
o mundo pende crescentemente
para a direita, se esta pode ser tomada como sinônimo de individualismo. A vitória de Berlusconi é apenas o mais recente exemplo. Em toda a Europa, houve primeiro a corrida da esquerda para o centro, o
que foi insuficiente para evitar que
a direita vencesse os pleitos recentes em todos os países relevantes,
exceto na Espanha.
Na Itália, a perplexidade dos comentaristas de centro-esquerda é
com a Liga Norte, xenófoba e supostamente de direita, que desbancou a esquerda e levou os votos "do
povo, que olha para a direita em
busca de proteção", como escreve
Renzo Guolo ("La Reppublica").
Como no Brasil, em que Lula só
levou os votos do povo quando a
metamorfose deambulou para a direita. Há quem aplauda, há quem
ache que o sistema, no mundo todo,
ficou maneta.
crossi@uol.com.br
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