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ELIANE CANTANHÊDE
O professor
BRASÍLIA - Pego carona na mensagem que recebi ontem do leitor e
educador paraense Kleber Duarte,
em que ele reclama dos salários de
fome dos professores, para fazer algumas comparações.
Um professor não tem cartão
corporativo nem para comprar tapioca de R$ 8, quanto mais para se
hospedar em hotéis cinco estrelas
no Rio de Janeiro, freqüentar restaurantes caros e alugar carros com
ar condicionado para passear por aí
nos fins de semana, alegando "compromissos funcionais".
Um professor não tem cartão
-aliás, nem cheque- para pagar R$
1.000 em abridores de garrafa,
R$ 2.738 em três lixeiras, R$ 36.603
em TV e som e R$ 21.600 em "telas
artísticas", como fez o reitor da
UnB -e com dinheiro público.
Um professor não viaja para
EUA, Alemanha, Portugal, Espanha
e China fazendo comprinhas de R$
2.217,27 na loja Nike, de material
esportivo, ou de R$ 2.988,21 na Best
Buy, de eletrônicos, e trazendo a
conta depois para a universidade.
Como o reitor da Unifesp (federal
de São Paulo), dizendo agora que
"botava no bolso sem explicar".
Um professor não ganha DAS
(aquela remuneração especial da
nata do funcionalismo), muito menos para fazer dossiê com arquivo
morto para usar contra antecessor
e adversário político do chefe.
Um professor também não ganha
aumento acima da inflação, como
acabam de ter os funcionários não-concursados da Câmara, que já estão entre mais bem remunerados
do serviço público.
E um professor está a anos-luz de
ter o salário de R$ 13 mil a R$ 18 mil
dos auditores fiscais, que conseguem mobilizar uma greve tão
bem-sucedida a ponto de paralisar
a entrada de caminhões nas fronteiras com a Argentina e o Uruguai e
afetar o comércio do Mercosul.
Pensando bem, há algo errado
com o professor. É tonto? É incompetente? Será burro? Quem paga
esse pato é a criança brasileira. Ou
seja, o futuro do Brasil.
elianec@uol.com.br
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