|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EMÍLIO ODEBRECHT
Um círculo vicioso
DESDE QUE iniciei estes artigos dominicais tenho sido
rigoroso com um princípio:
evitar temas políticos e assuntos
que envolvam minha organização.
Meu propósito é debater ideias e
defender causas de interesse público. Entendo que não é correto o
uso de espaço tão nobre para abrigar reivindicações ou tratar de interesses setoriais.
Mas há situações que fogem à regra, como é o caso da recente escalada de más notícias sobre uma velha conhecida nossa, a inflação.
Entidades como o IBGE e a Fundação Getulio Vargas já demonstram, através de seus índices de
preços, que desde o início de janeiro o custo de vida vem crescendo.
Não acho que isso seja decorrente de problemas de nossa política
monetária, que considero correta.
Se a carestia começa a nos rondar,
isso é devido a um desarranjo histórico da economia nacional.
Explico: sempre que a inflação
preocupa, os juros sobem. Com os
juros altos, o setor produtivo reduz
os investimentos e as empresas
não crescem.
Então, em algum momento, a inflação recua, os juros caem, a economia respira e a população, confiante, vai às compras. E aí surge o
gargalo: as empresas, com seu parque industrial defasado, não dão
conta de suprir o mercado. O resultado é a alta dos preços, ou a famosa inflação de demanda. Em resposta, o Banco Central sobe os juros novamente.
Sabemos que há outros fatores
que provocam inflação. O desequilíbrio fiscal, por exemplo.
Mas, diante da expectativa de
elevação dos juros na próxima reunião do Copom, aproveito a oportunidade para destacar dois aspectos: o primeiro é que maiores níveis
de poupança é imperativo, e o segundo, que uma equação que viabilize linhas de financiamento de
longo prazo por parte dos bancos
privados e públicos para o setor
produtivo, hoje dependente única
e exclusivamente do BNDES, é
fundamental.
Precisamos de mais poupança e
de crédito contínuo, estável e a juros que estimulem os investimentos. Só assim nossa estrutura produtiva se ampliará e a economia seguirá seu curso, livre dos soluços de
aumento de juros a cada sinalização de crescimento da inflação
provocado pelo desequilíbrio entre
oferta e demanda.
Quando a produção no Brasil parar de correr atrás do consumo e
quando tivermos uma cultura da
poupança, inclusive no setor público, nos libertaremos do círculo vicioso descrito acima.
Não se constrói uma economia
sólida atacando apenas os sintomas. Se não agirmos de forma
coordenada sobre as causas, sairemos deste período inflacionário
para cair logo adiante em outro da
mesma natureza.
EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos nesta
coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: "Olhai para isto" Próximo Texto: Frases
Índice
|