|
Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
Editoriais
editoriais@uol.com.br
Ajuste emergente
Como o Brasil, China eleva
juros e reduz crédito contra a
inflação, mas, com alta taxa de
investimento, não tem restrição
de oferta interna
Uma das heranças da crise financeira de 2008 foi
consolidar um cenário de
crescimento econômico diverso entre países desenvolvidos e o mundo emergente.
Os primeiros, em sua
maioria, passam por uma
recuperação lenta, com amplo excesso de capacidade
produtiva, inflação baixa e
juros próximos de zero. Nos
EUA, por exemplo, dois
anos depois da crise a produção industrial ainda se
encontra 7% abaixo do pico
de 2008. Não é à toa que o
banco central americano
continua jogando dinheiro
na economia, o que pressiona a inflação global.
Essas pressões, agravadas pelo aumento de 60%
nos preços dos alimentos
desde meados do ano passado, complicam a gestão
econômica em países tão
dispares quanto Brasil, China e Índia. Todos enfrentam
o problema oposto: excesso
de crescimento e necessidade de apertar juros e crédito.
Na China, o governo tem
implantado medidas de
contração. O objetivo é desacelerar o crescimento para 9% em 2011 (contra 10,3%
no ano passado). Para tanto, assim como o Brasil, utiliza a combinação de aumentos de juros (quatro altas de 0,25 ponto percentual), controle seletivo de
crédito com foco na construção civil (no caso brasileiro
o alvo é o crédito para consumo) e aumento substancial nos depósitos compulsórios dos bancos.
Há sinais incipientes de
que a estratégia do governo
chinês estaria obtendo algum sucesso. O crescimento
do PIB atingiu 9,4% no primeiro trimestre, em relação
ao trimestre anterior, o que
indica pequena desaceleração (a alta no quarto trimestre de 2010, na mesma base
de comparação, fora
10,7%). A persistir esse padrão, o PIB deste ano ficaria
bem próximo ao objetivo do
governo.
Por outro lado, a inflação
ainda permanece elevada,
em 5,4% nos últimos 12 meses, bem acima da meta oficial de 4%. É a taxa mais alta
em quase três anos.
Lá como cá, o governo
conta com a perda de ímpeto dos preços de alimentos
para reduzir a inflação na
segunda metade do ano, um
quadro provável, mas não
garantido. Para evitar surpresas, a Comissão de Reforma e Desenvolvimento
Nacional reuniu 17 associações industriais e determinou o congelamento temporário de alguns preços.
Dificuldades para reduzir
a inflação são comuns, portanto, a Brasil e China. Mas
os chineses contam com
uma vantagem para lidar
com o problema: a taxa de
investimento muito superior à brasileira -cerca de
45% do PIB, contra 18,4%
no Brasil.
O resultado é que a economia chinesa tem uma tendência crônica ao excesso
de produção e à competição
agressiva de preços. Basta
pequena desaceleração para que a inflação (fora a dos
alimentos) ceda com rapidez.
No Brasil, ao contrário, a
economia enfrenta pressões
de custo e de demanda em
uma situação de baixo crescimento da oferta interna, o
que dificulta o trabalho do
nosso Banco Central.
Próximo Texto: Editoriais: As três dívidas do Peru
Índice | Comunicar Erros
|