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As três dívidas do Peru
A eleição presidencial no Peru
deu origem a manifestações localizadas de cunho racista contra
Ollanta Humala, que teve 32% dos
votos e disputará o segundo turno, em junho, com Keiko Fujimori
(24%), filha do ex-presidente Alberto Fujimori (1990 a 2000).
O fato de oponentes se lançarem na depreciação da origem indígena de Humala chama atenção
para a marginalização histórica
desse contingente, estimado em
30% a 45% dos peruanos.
Já se comentou aqui a desigualdade de renda no Peru. A discriminação de fundo étnico -e a forma
como ela se reflete na relação entre Lima e demais regiões- é outro fator relevante para explicar a
baixa popularidade dos últimos
governos, a despeito do crescimento econômico impulsionado
pelos preços internacionais de minérios como cobre e prata.
Esses recursos estão principalmente em áreas dos Andes e da
selva amazônica onde é maior a
concentração de populações indígenas. Tanto o atual presidente,
Alan García, quanto o antecessor,
Alejandro Toledo, foram acusados de não consultar o eleitorado
regional sobre concessões para
exploração das riquezas naturais.
É sintomático que, apesar de
ocuparem lados opostos no espectro político, Humala (à esquerda)
e Keiko (à direita) proponham
agora o aumento de impostos cobrados das mineradoras a fim de
financiar gastos sociais.
O deficit peruano tem três componentes -socioeconômico, étnico e democrático. Uma das razões
para sua sobrevida é a coincidência entre a democratização há 32
anos, após um ciclo de ditaduras
militares, e as ações armadas do
Sendero Luminoso.
De um lado, o grupo maoísta
tentava associar-se à cultura indígena e conquistar adeptos nessa
população. De outro, o país viveu
anos sob estado de exceção no
combate ao terrorismo senderista,
época em que se acentuou o preconceito na região costeira contra
habitantes do altiplano e da selva.
Esse é o contexto do quadro
eleitoral atual, mais complexo
que os estereótipos que apontam
Humala como um novo Hugo Chávez e Keiko como a cópia de Fujimori. Os traços autoritários que
ambos exibem são sintomas díspares de um mesmo mal -o triplo
deficit peruano.
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