UOL




São Paulo, domingo, 18 de maio de 2003

Próximo Texto | Índice

SEM MEDO DE CRESCER

Há motivos para suspeitar de que a rendição do governo de Luiz Inácio Lula da Silva aos interesses financeiros que predominam na economia brasileira há mais de uma década não seja apenas uma concessão tática. Mais de quatro meses se passaram desde a posse, e a política econômica só fez apertar o torniquete sobre empresas e trabalhadores. A produção está estagnada, a renda per capita retrocede.
Na campanha, o presidente Lula, seguindo o mote de todos os candidatos, comprometeu-se com a mudança da política econômica. Prometeu colocar o país no rumo do crescimento, do aumento do emprego e da distribuição da renda. Compreende-se que o momento da posse não era propício à menor alteração de rumo. O primeiro presidente de esquerda da história assumia cercado de intensa desconfiança.
Os indicadores financeiros beiravam o descalabro. Se adotar inicialmente a cartilha do conservadorismo era inevitável, é hora de questionar não apenas a persistência da ortodoxia como seu exacerbamento. Sem que o FMI o tenha exigido, o ministro Antonio Palocci, interessado em gerar um "choque de credibilidade", ofereceu ao mercado financeiro mais superávit fiscal. Ou seja, abriu espaço no Orçamento para pagar uma conta de mais de R$ 100 bilhões em juros. Ignorando o custo já extorsivo do crédito, o Banco Central manteve a trajetória ascendente da taxa de juros. Desprezando a asfixia que os tributos exercem sobre a atividade econômica, o Executivo enviou ao Congresso propostas de reformas que, se aprovadas, aumentarão ainda mais a carga tributária.
O governo tarda em implementar a promessa de desenvolvimento que o elegeu. Se a manutenção da política anterior era imperativa no começo, está evidente que ela se esgotou. Persistir nesse caminho é intolerável. Onde está o prometido projeto alternativo, tão falado na campanha?
Manter a economia nos trilhos atuais significa estagnação, desemprego e deterioração da renda, embora agrade àquela fatia francamente minoritária de brasileiros que faz fortunas emprestando dinheiro ao Estado ou intermediando essa operação. De que lado está o governo Lula? Dos bancos ou da produção? Da mudança ou da permanência de um modelo que não consegue responder à exigência do crescimento?
Não se propõe uma mudança brusca, uma aventura populista, mas que se dêem os primeiros passos no rumo do desenvolvimento do país.



Próximo Texto: Editoriais: CRISE DE CONFIANÇA
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.