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São Paulo, domingo, 18 de maio de 2003

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CRISE DE CONFIANÇA

As esperanças de recuperação da economia mundial após a guerra do Iraque estão definitivamente superadas. Sinais negativos se acumulam, tais como a queda do dólar e os indicadores de contração econômica na Alemanha, que também renegou abertamente o compromisso com a meta de ajuste fiscal da União Européia. No Japão, as expectativas de reforma econômica e recuperação da atividade continuam pequenas. A situação se agravou com a recente epidemia de pneumonia.
A face mais visível da crise tem um nome: volatilidade cambial das moedas de referência. Ou seja, não há nenhuma perspectiva de controle pelos governos das principais economias industrializadas do planeta do curso das suas taxas de câmbio. O mesmo vale para sua capacidade de promover o crescimento.
A volatilidade das moedas, sinônimo de fragilidade das políticas econômicas, foi por muito tempo associada a economias endividadas no Terceiro Mundo. O fenômeno agora engolfa o dólar, o euro e o iene.
O euro sofreu uma valorização de 25% em relação ao dólar num ano. Considerando uma cesta de moedas dos principais parceiros comerciais dos Estados Unidos, o dólar perdeu mais de 15% do seu valor. A libra caiu ao seu patamar mais baixo nos últimos seis anos.
Além das dificuldades enfrentadas pelos governos para encontrar algum rumo, as empresas globalizadas enfrentam maiores custos e, portanto, têm a rentabilidade reduzida.
Nesse contexto, os investidores permanecem cautelosos e vai sendo confirmada a hipótese de um longo período de baixo dinamismo na economia mundial. Os escândalos de corrupção em instituições financeiras também abalou Wall Street.
Erraram economistas, governantes e empresários que acreditaram nas virtudes do mercado como mecanismo automático de ajuste.
Até os anos 80, a volatilidade das principais moedas do mundo era vista com bons olhos. Afinal, propiciava novas oportunidades para a especulação financeira.
Os investidores globais defendiam a mais ampla desregulamentação para que os próprios mercados dessem conta da instabilidade.
Nos últimos anos, no entanto, sucederam-se casos catastróficos de quebras financeiras exatamente nos novos mercados que supostamente conduziriam o sistema global a um novo equilíbrio.
As diversas crises com epicentro em mercados de derivativos foram o estopim de um colapso epidêmico de instituições financeiras, de empresas e de governos em todos os quadrantes do planeta.
Tais mercados obviamente não deixaram de existir, mas os custos da proteção contra a instabilidade cambial subiram. Sem confiança no equilíbrio que supostamente surgiria, os mercados acabam por produzir ainda mais incerteza. Aumentam os custos financeiros e a disposição a investir se reduz, mesmo num contexto de baixas históricas das taxas de juros nas principais economias industrializadas, em especial no Japão e nos Estados Unidos.
O risco de deflação, um indicador clássico de fragilidade crônica, é cada vez maior nos EUA (no Japão, essa é a realidade há três anos). A União Européia, que resiste em cortar os juros, coloca em risco o mais ambicioso projeto de integração econômica da história contemporânea.
Sem governos capazes de agir eficazmente nem mercados eficientes a ponto de engendrar uma reversão da crise, a economia mundial mergulha num quadro preocupante.


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