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VALDO CRUZ
Somos todos iguais
BRASÍLIA - Depois dos dias de terror e pânico, leio que São Paulo voltou
ao normal. A elite da cidade, que viveu seu dia de periferia, como bem
registrou ontem Mônica Bergamo,
deve estar respirando aliviada.
Vai poder circular pelas ruas sem
medo, freqüentar novamente suas
reuniões e festas, canceladas nos últimos dias por causa da guerra deflagrada pelo PCC.
Posso estar enganado, mas essa volta à "normalidade" não está tão normal assim para boa parte da população de São Paulo. Aquela que vive na
periferia real da cidade.
Se antes ela estava com medo dos
ataques desferidos pelo PCC, vitimando seus familiares que trabalham nas forças de segurança do Estado, hoje ela deve estar insegura
com a atuação de policiais decididos
a vingar os colegas mortos.
Essa onda, sabemos bem, pode sair
de controle. Aí, muita gente inocente
pode acabar morta pelas ruas de São
Paulo. Isso já estaria, inclusive, acontecendo, segundo relatos, ainda não
comprovados, coletados aqui e ali pelos jornalistas.
Cabe ao governador de São Paulo,
Cláudio Lembo, evitar que isso se
transforme numa escalada de terror
-antes promovida por bandidos,
agora sob o risco de ser liderada por
alguns maus policiais, o que pode
prejudicar a imagem da maioria.
O primeiro passo a ser dado é o da
transparência. O governador deve
exigir de seus subordinados a divulgação dos nomes de todos aqueles
mais de 70 suspeitos mortos nos últimos dias pela polícia.
Caso contrário, o Estado estará fechando os olhos para o que pode ser
uma prática totalmente reprovável,
numa tentativa de esconder as suas
próprias falhas na segurança pública
-deixando livre a política de combater o terror com o terror.
Enfim, não é porque o pânico está
de volta à periferia que as autoridades podem decretar o retorno à normalidade. Até a próxima crise.
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