São Paulo, domingo, 18 de maio de 2008

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CARLOS HEITOR CONY

A formiga e o vulcão

RIO DE JANEIRO - Toda vez que acontece uma tragédia, como a do terremoto na China ou a do furacão em Mianmar, com milhares de mortos e desabrigados, eu me sinto como uma formiga tentando entender um vulcão. Aliás, também não entendo os vulcões, embora existam vulcanólogos que devem saber mais do que eu sobre o assunto. Já tentaram me explicar como essas coisas acontecem, mas fico na mesma, como o primeiro homem que viu um raio descer do céu e incendiar uma floresta.
Mesmo assim, acredito que seja mais fácil entender um vulcão ou um terremoto do que certos fenômenos na vida política e social da humanidade -e não estou me referindo exatamente ao Ronaldo Fenômeno, que andou em trapalhadas recentemente.
A renúncia da ministra Marina Silva pode ser arrolada como um desses fenômenos. Ela procurou cumprir a sua agenda ambientalista na crença de que o governo do qual fazia parte tinha o mesmo programa de ação. O problema da Amazônia foi colocado como uma questão de Estado e de governo, não de programa particular de uma ministra.
Marina atritou-se além da conta, não fez concessões -o que é fatal para qualquer político, sobretudo para aqueles que exercem cargos executivos.
Pode parecer estranho que o cronista comece a falar em terremotos e vulcões e, de repente, engate a mudança ministerial da semana que passou. De quebra, falando no Ronaldo.
São fenômenos. Os especialistas compreendem essas coisas e outras mais, o mundo é assim mesmo. Há até uma frase que garante existir muita coisa entre o céu e a Terra sem ser os aviões de carreira -estou misturando Shakespeare com o barão de Itararé, o que não deixa de ser um fenômeno.
É isso mesmo. Não adianta explicar um vulcão a uma formiga.


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