São Paulo, domingo, 18 de maio de 2008

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Parar para pensar

PASSEI ESTA semana nos Estados Unidos. Tive uma surpresa. Sempre impliquei com o esbanjamento de energia que se praticava naquele país. Os prédios ficavam com todas as luzes acesas durante à noite, apesar de vazios. O ar condicionado e o aquecimento eram mantidos no máximo, quando se poderia viver bem com temperaturas mais amenas. Gigantescos automóveis eram usados indiscriminadamente.
Pois bem. Precisou o galão de gasolina ter passado, em 2007, para mais de US$ 3 para os americanos começarem a se tocar. Uma pesquisa realizada naquele ano já mostrou sinais de mudança: 68% dos cidadãos passaram a planejar melhor o uso do automóvel. Muitos motoristas desistiram da gasolina premium e passaram para a comum. Cerca de 40% cortaram refeições fora de casa ou férias de automóvel ("Pesquisa Nielsen", 2007).
Neste ano, com a explosão do preço do petróleo, as viagens urbanas foram mais reduzidas, e o uso do transporte coletivo aumentou.
A porcentagem de americanos aos quais a elevação do preço do petróleo está causando problemas aumentou de 50% para 65%. Uma parcela expressiva dos motoristas está de olho em automóveis pequenos, de menor consumo. Até os policiais receberam ordens para usar os carros com mais parcimônia. Não esperava ver tanta mudança em tão pouco tempo. A escassez ensina. Que o digam os europeus, que aprenderam a ser mais comedidos com as guerras, quando até comida faltou.
Enquanto isso, nas grandes cidades do Brasil, perde-se tempo, saúde e dinheiro em um trânsito baseado em automóveis que não se movem. O congestionamento em São Paulo já ultrapassou os 200 quilômetros. Muitos festejam a entrada de mais de mil carros por dia na capital. Mas para circular onde? Numa rede viária da década de 70. Não tem sentido.
No Brasil, o aumento do combustível se deu pelo lado do óleo diesel, que vai ter um impacto apreciável nos preços do atacado e, mais tarde, nos preços dos consumidores. A Petrobras absorve parte dos prejuízos causados pelo virtual congelamento de preços de seus produtos -em especial dagasolina.
Nesse ambiente, penso que vamos demorar mais tempo para entrar no salutar regime de economia que até os americanos acabaram adotando. A miopia em relação aos problemas reais nesse campo bloqueia a nossa capacidade de apreender.

antonio.ermirio@antonioermirio.com.br


ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES 0 escreve aosdomingos nesta coluna.


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