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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Nuvens sobre 2010
SÃO PAULO - A sucessão de Lula
entrou num período de grande indefinição. A doença de Dilma Rousseff fez ruir em poucas semanas a
percepção quase unânime no meio
político de que a disputa se travaria
entre ela e o governador José Serra.
Essa segue sendo uma possibilidade. Mas agora é apenas isso -um
cenário possível entre outros, num
ambiente cercado de muitas dúvidas e expectativas.
O desarranjo de um jogo que se
entendia encaminhado reabre apetites e reanima a tentação por soluções que pareciam descartadas. A
mais heterodoxa é a proposta do
terceiro mandato, insuflada por
alas da base petista. Pelas mãos de
representantes do lúmpen do governismo, ela já ressuscitou e vai fazer parte das conversas daqui por
diante. Por quanto tempo e com
qual desfecho ainda não se sabe.
A doença da ministra já comprometeu a unidade precoce dos petistas em relação a 2010. Hoje, estão
diante de opções difíceis: manter o
apoio à candidatura Dilma, embarcar pra valer na chicana do terceiro
mandato ou inventar um novo nome. Palocci é, de longe, o favorito
dos donos do dinheiro, mas, mesmo
que o STF o absolva, é preciso enfeitar muito a realidade para separá-lo
do crime contra o caseiro.
O PMDB a partir de agora vai subir seu preço e postergar compromissos. E Ciro Gomes, que já tentava cavar uma fenda improvável entre PT e PSDB, talvez vislumbre algo mais promissor num quadro de
tantas incertezas.
Aécio, que nos bastidores parecia
estar se acertando com Serra, agora
também pode ser tentado a reavaliar suas chances. Mas não é só isso
que deve tirar o sono do governador
paulista, em tese o maior beneficiado pelo revés no campo adversário.
A prudência que mostrou até aqui,
recusando-se a admitir a candidatura, neste novo cenário pode sugerir ao eleitor inapetência, hesitação
e medo de enfrentar o grande desafio. Abriu-se uma cratera no caminho de 2010. Como se diz lá na roça,
a política não aceita o vazio.
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