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São Paulo, quarta-feira, 18 de junho de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Sobre vontade política

ASSUNÇÃO - Nessas questões, é muito fácil queimar a língua, mas vou correr o risco de dizer que a tão falada e tão pouco aplicada vontade política está, sim, produzindo efeitos ao menos na política externa brasileira.
A prioridade para o Mercosul, tema permanente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde o discurso de posse, serviu para ressuscitar um bloco que caminhava para o coma ou, na melhor das hipóteses, para uma certa irrelevância.
Com uma vantagem sobre tentativas anteriores de "relançar" o Mercosul, expressão recorrente da diplomacia brasileira no governo anterior: desta vez, há não apenas retórica, mas um cronograma com prazos e metas a serem atingidas para que se alcance de fato o "Objetivo 2006".
Trata-se, na essência, de, até lá, completar todo o arcabouço de um mercado comum, uma integração a mais ampla possível entre os quatro países que compõem o bloco.
É verdade que metas e prazos ainda não estão estabelecidos. Da cúpula de Assunção até outubro, os funcionários dos quatro países farão um esforço para elaborar propostas relativas a umas e outros a serem em seguida examinadas em reunião extraordinária do Grupo Mercado Comum, a instância técnica do bloco.
Suspeito que muita gente no Brasil vá dar de ombros ou até torcer o nariz para esse novo ritmo do Mercosul. Há uma certa sensação de que se trata apenas da tentativa de união dos pobres. Pobre com pobre dá mais pobreza, considera-se em alguns setores empresariais, acadêmicos e até jornalísticos.
Não estou tão certo de que seja assim. Quando menos porque a América do Sul é o único espaço geográfico de que o Brasil dispõe para flexionar seus músculos. Não se trata de escolha, mas de uma condenação da geografia e da história. É pegar o que se tem ou largar, esta claramente a opção mais covarde.
Pelo menos na área externa, o governo Lula dá mostras de um ativismo quase frenético, em profundo contraste com a política interna.


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