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CLÓVIS ROSSI
Sobre vontade política
ASSUNÇÃO - Nessas questões, é muito fácil queimar a língua, mas vou
correr o risco de dizer que a tão falada e tão pouco aplicada vontade política está, sim, produzindo efeitos ao
menos na política externa brasileira.
A prioridade para o Mercosul, tema
permanente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde o discurso de
posse, serviu para ressuscitar um bloco que caminhava para o coma ou,
na melhor das hipóteses, para uma
certa irrelevância.
Com uma vantagem sobre tentativas anteriores de "relançar" o Mercosul, expressão recorrente da diplomacia brasileira no governo anterior:
desta vez, há não apenas retórica,
mas um cronograma com prazos e
metas a serem atingidas para que se
alcance de fato o "Objetivo 2006".
Trata-se, na essência, de, até lá,
completar todo o arcabouço de um
mercado comum, uma integração a
mais ampla possível entre os quatro
países que compõem o bloco.
É verdade que metas e prazos ainda
não estão estabelecidos. Da cúpula de
Assunção até outubro, os funcionários dos quatro países farão um esforço para elaborar propostas relativas
a umas e outros a serem em seguida
examinadas em reunião extraordinária do Grupo Mercado Comum, a
instância técnica do bloco.
Suspeito que muita gente no Brasil
vá dar de ombros ou até torcer o nariz para esse novo ritmo do Mercosul.
Há uma certa sensação de que se trata apenas da tentativa de união dos
pobres. Pobre com pobre dá mais pobreza, considera-se em alguns setores
empresariais, acadêmicos e até jornalísticos.
Não estou tão certo de que seja assim. Quando menos porque a América do Sul é o único espaço geográfico
de que o Brasil dispõe para flexionar
seus músculos. Não se trata de escolha, mas de uma condenação da geografia e da história. É pegar o que se
tem ou largar, esta claramente a opção mais covarde.
Pelo menos na área externa, o governo Lula dá mostras de um ativismo quase frenético, em profundo
contraste com a política interna.
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