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São Paulo, quarta-feira, 18 de junho de 2003

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Brasil e EUA, uma parceria construtiva

RUBENS BARBOSA

Depois de amanhã o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se encontrará, pela segunda vez em seis meses, com o presidente George W. Bush. Trata-se de uma das mais importantes reuniões presidenciais de toda a história de nosso relacionamento.
Pela primeira vez, Brasil e EUA manterão uma reunião de cúpula da qual participarão, além dos chefes de Estado, quase uma dezena de ministros de cada lado. Juntos, deliberarão sobre o que se afigura como decisão fundamental para o futuro do diálogo bilateral: a criação de um novo e ampliado marco institucional que balizará, aprofundará e diversificará as relações entre os dois países. As relações entre Brasil e EUA talvez vivam, hoje, o seu melhor momento em muitos anos.
Elas crescem na valorização de nossas convergências, mas também no reconhecimento das diferenças: respeito mútuo e defesa do interesse nacional são seus princípios diretores.
Prosperam na constatação de que o Brasil representa, cada vez mais, um centro de equilíbrio político na América do Sul, exercendo uma liderança, produto de seu amadurecimento democrático e de sua estabilização econômica, que tornam o país interlocutor privilegiado dos governos da região.
Desenvolvem-se no reconhecimento do importante papel que exercem os dois países na condução do processo de negociação da Alca, que os tem, juntos, em sua co-presidência.
Consolidam-se, enfim, na comprovação de que dois países que nem sempre concordam e dois governos oriundos de experiências e correntes políticas distintas podem, sim, dar-se muito bem.
Nosso relacionamento é marcado por uma agenda em que se destacam tanto as convergências como as diferenças. Temos com os EUA importantes diferendos comerciais, que tenderão a crescer na medida em que o intercâmbio comercial aumentar. Temos opiniões distintas sobre alguns aspectos importantes da agenda política internacional.
Apesar disso, soubemos construir, ao longo dos anos, uma relação bilateral madura, franca e proveitosa.
Temos naquele país o principal destino de nossas exportações (cerca de US$ 15 bilhões em 2002), compostas, em grande parte -76%-, de produtos manufaturados, de grande valor agregado; a maior fonte de investimentos em termos de estoque de capitais (US$ 30 bilhões) e uma das maiores em termos de investimento direto estrangeiro (US$ 2,6 bilhões, cerca de 15% do total em 2002); a origem de importantes parcerias nas áreas da indústria, do comércio e dos serviços.
Cerca de 420 das 500 maiores empresas americanas encontram-se hoje estabelecidas no Brasil. A exposição dos bancos norte-americanos em nosso país é maior do que em toda a Ásia. Algumas das mais importantes empresas brasileiras, como a Embraer, a Votorantim, a Gerdau, a CSN e a Vicunha, têm ampliado, por outro lado, seus investimentos nos EUA.


As relações entre Brasil e Estados Unidos talvez vivam, hoje, o seu melhor momento em muitos anos


Estabelecemos, em conjunto, dezenas de acordos, comissões e mecanismos de consulta em campos estratégicos como meio ambiente, combate ao tráfico internacional de drogas, agricultura, cooperação científica, energia atômica, cooperação judicial, aviação, cooperação militar etc. Convergimos, enfim, em uma ampla gama de áreas distintas e compartilhamos inúmeros interesses.
Depois de amanhã essa relação dará um passo adiante. No contexto da reunião presidencial, será examinada uma agenda positiva e anunciada a criação de novo quadro para o aprofundamento e a expansão do entendimento bilateral. Os presidentes e seus ministros examinarão um plano que prevê a institucionalização dessa relação e definirão os temas prioritários de uma futura agenda bilateral ampliada. Entre esses temas deverão estar energia, agricultura, crescimento econômico, educação, ciência e tecnologia, saúde e formas de os EUA cooperarem com o Brasil no combate à pobreza e no programa Fome Zero.
Em seu novo formato, o relacionamento entre Brasil e EUA contará com a realização periódica de reuniões governamentais em diferentes setores, o que permitirá uma maior cooperação política e o estabelecimento de programas e ações comuns. Trata-se de avanço inédito desse diálogo, que passará a contar com foros e instrumentos de coordenação que os EUA só mantêm hoje com o Canadá e o México, e o Brasil com seus vizinhos sul-americanos.
Essa não é uma ação meramente simbólica, embora a esfera dos símbolos seja, por si só, importante tanto no mundo da diplomacia como no da política. Trata-se de valorizar um relacionamento que se desenvolve e se amplia, de acordo com nossos interesses, e que, a partir de agora, se revigora para o estabelecimento de uma nova parceria construtiva.
Brasil e EUA, que sempre tiveram uma relação importante, passam agora a desenvolver uma parceria construtiva.

Rubens Antonio Barbosa, 65, diplomata, é embaixador do Brasil em Washington. Foi presidente do Comitê de Representantes da Associação Latino-Americana de Integração (1991-92), coordenador nacional do Mercosul (1991-93) e embaixador no Reino Unido.


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