São Paulo, sexta-feira, 18 de junho de 2004

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CLAUDIA ANTUNES

Reacionário alheio

RIO DE JANEIRO - Se alguém já tentou assistir à televisão nos Estados Unidos, sabe que a agonia pode ser pior do que aqui: são realmente centenas de canais, só que, na maioria das vezes, não há nada para ver. Ainda é possível encontrar alguma coisa decente na PBS, a TV pública, mas, nas emissoras abertas ou fechadas de Rupert Murdoch (Fox), Michael Eisner (Disney) e Gustavo Cisneros (Univision), para citar algumas, a mediocridade costuma prevalecer.
Nos EUA, as versões domésticas dos canais internacionais, como a CNN, raramente vão além do quarteto saúde-crime-fofocas-notícias da paróquia. Para buscar na TV informações sobre algo importante que aconteceu, digamos, na Europa, é preciso esperar até depois das 22h.
Essa é uma das razões pelas quais tenho dúvidas de que seja uma boa notícia a dada ontem pelo venezuelano Cisneros, em entrevistas à imprensa brasileira, de que pretende aumentar os investimentos no Brasil. O empresário tem interesse em comprar participações em TVs e diz que o limite de 30% para estrangeiros não seria empecilho para ele.
Numa época de crise, o bom senso recomenda não dispensar dinheiro. Mas, além do nivelamento por baixo da TV nos EUA, onde é sócio do principal canal em espanhol, a outra boa razão para duvidar das intenções de Cisneros é a atuação dele na Venezuela, onde sua Venevision é a maior rede privada. Apesar de ter feito profissão de fé na "liberdade de expressão" e na "democracia", o empresário relativiza as duas quando se trata de derrubar Hugo Chávez.
Na tentativa de golpe de 2002, a Venevision apoiou os golpistas e fez acordo com outras emissoras para não transmitir manifestações a favor de Chávez. Depois, atuou na convocação do locaute que parou o país e ignorou pronunciamentos presidenciais. Com esse currículo, se é para ter mais um reacionário com força na mídia eletrônica, talvez seja melhor ficar com os já conhecidos -até porque eles sempre se unem no final.


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