|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLAUDIA ANTUNES
Reacionário alheio
RIO DE JANEIRO - Se alguém já tentou assistir à televisão nos Estados
Unidos, sabe que a agonia pode ser
pior do que aqui: são realmente centenas de canais, só que, na maioria
das vezes, não há nada para ver. Ainda é possível encontrar alguma coisa
decente na PBS, a TV pública, mas,
nas emissoras abertas ou fechadas de
Rupert Murdoch (Fox), Michael Eisner (Disney) e Gustavo Cisneros
(Univision), para citar algumas, a
mediocridade costuma prevalecer.
Nos EUA, as versões domésticas dos
canais internacionais, como a CNN,
raramente vão além do quarteto saúde-crime-fofocas-notícias da paróquia. Para buscar na TV informações
sobre algo importante que aconteceu,
digamos, na Europa, é preciso esperar até depois das 22h.
Essa é uma das razões pelas quais
tenho dúvidas de que seja uma boa
notícia a dada ontem pelo venezuelano Cisneros, em entrevistas à imprensa brasileira, de que pretende aumentar os investimentos no Brasil. O
empresário tem interesse em comprar participações em TVs e diz que o
limite de 30% para estrangeiros não
seria empecilho para ele.
Numa época de crise, o bom senso
recomenda não dispensar dinheiro.
Mas, além do nivelamento por baixo
da TV nos EUA, onde é sócio do principal canal em espanhol, a outra boa
razão para duvidar das intenções de
Cisneros é a atuação dele na Venezuela, onde sua Venevision é a maior
rede privada. Apesar de ter feito profissão de fé na "liberdade de expressão" e na "democracia", o empresário relativiza as duas quando se trata
de derrubar Hugo Chávez.
Na tentativa de golpe de 2002, a Venevision apoiou os golpistas e fez
acordo com outras emissoras para
não transmitir manifestações a favor
de Chávez. Depois, atuou na convocação do locaute que parou o país e
ignorou pronunciamentos presidenciais. Com esse currículo, se é para ter
mais um reacionário com força na
mídia eletrônica, talvez seja melhor
ficar com os já conhecidos -até porque eles sempre se unem no final.
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: A derrota Próximo Texto: José Sarney: Lampião e o Iphan Índice
|