São Paulo, sexta-feira, 18 de junho de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

A derrota

BRASÍLIA - Governo fraco é igual a aliados insubordinados e a negociações duras, fartura de verbas e favores, votações indefinidas até a última hora. E a derrotas. Esse foi o clima no Senado na votação do mínimo de R$ 260 proposto pelo governo.
Todos reconhecem que o governo "vive um momento delicado" com o Senado e com os partidos, como disse ontem da tribuna, com o gravador ligado, o senador Tião Viana (AC). Não é o único a achar isso no PT.
Há vários motivos para esse "momento delicado", mas o principal deles é inquestionável: a partir da crise Waldomiro, José Dirceu perdeu a bússola e os marinheiros do Planalto não fazem outra coisa senão trocar acusações, insinuações, ameaças.
O reflexo na opinião pública costuma ser lento, mas, no Congresso, é quase automático. E aí estão os comandantes políticos correndo de um lado para o outro para tentar reunir os cacos e os votos enquanto aliados poderosos cruzam os braços e adversários que eventualmente poderiam ajudar recolhem-se.
O melhor exemplo de aliado incomodado é Sarney, derrotado na emenda que lhe permitiria a reeleição para a presidência do Senado. E os melhores exemplos de adversários recolhidos são Aécio Neves, Tasso Jereissati e ACM. Eles podem até concordar com o mínimo de R$ 260, mas não tiveram ânimo para ajudar o governo a vencer.
O jeito foi recorrer a outros "aliados" bem menos convencionais, apesar de fartamente utilizado pelos governos: a negociação voto a voto, com a liberação de projetos e cargos. O que -confirma-se mais uma vez- nem sempre dá certo.
O que conta na votação no Congresso não são os cofres da Previdência nem o interesse de quem ganha o mínimo. O fundamental é o puro jogo do poder. R$ 260 ou R$ 275? Tanto fazia. O importante para o governo era vencer. Para a oposição e para os dissidentes, fazê-lo perder.
A próxima etapa é achar culpados. Dirceu, Aldo Rebelo? A luta continua. Nisso, todos eles são craques.


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