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RUY CASTRO
Seleção sem povo
RIO DE JANEIRO - De 1958 a
1982, o Brasil teve um caso de amor
com sua seleção de futebol. E ela fazia por onde: venceu três Copas do
Mundo, jogou partidas inesquecíveis no Maracanã e no Morumbi e
consagrou três gerações de jogadores. Havia mais craques na praça do
que vagas no time, e nada superava
a honra de uma convocação.
Fora da seleção, esses jogadores
entravam em campo todos os domingos por seus clubes -nossos
clubes. Podiam ser amados ou odiados no fragor doméstico, mas, no
que vestiam a camisa amarela, cessava o vodu. A seleção tinha até torcedores próprios, e não apenas entre os que só se ligam em futebol na
Copa por um vago ardor patriótico.
Mas isso acabou. A seleção é, há
muito, um feudo de jogadores que
atuam no exterior, defendendo camisas com as quais nada temos a
ver. Por vários motivos, também
não a assistimos em nossos estádios
-há sete anos, por exemplo, ela não
joga no Rio. E, como aconteceu na
última Copa, a seleção, convocada
na Europa, não veio ao Brasil nem
para pedir a bênção do povo que representava. Deu no que deu.
As razões são muitas, mas o fato é
que a seleção se divorciou do povo.
Não é mais o Brasil. Reduziu-se a
uma legião estrangeira que, mecanicamente, canta o hino antes do
jogo. Ex-ídolos nacionais como Kaká, Ronaldinho Gaúcho e Robinho
preferem jogar por seus milionários clubes a jogar pela seleção. E
estão certos: só quem vai à Europa
sabe o que eles representam em
paixão para os torcedores desses times. São deuses em suas cidades.
Vem aí uma opaca Copa América.
Os craques a desprezam e a torcida
brasileira, com razão, também não
está nem aí. Qualquer campeonato
local envolvendo o Arapiraca, o Botucatu ou o Cascavel será mais
emocionante, se um desses for o
nosso clube de coração. A camisa
precisa estar perto do peito.
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