São Paulo, quarta-feira, 18 de junho de 2008

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MELCHIADES FILHO

A malícia da ausência

BRASÍLIA - Se Lula e outros figurões guardam distância das campanhas municipais (ou procuram parecer distantes), é por cálculo político, e não por falta de apetite. O presidente prefere preservar a base no Congresso a multiplicar o número de prefeitos de sua preferência. Sabe que terá de conviver por dois anos com os (muitos) deputados que perderão em outubro -e que "voltarão azedos" a Brasília.
Seu apelo ao PC do B em favor de Marta Suplicy é uma exceção, e não a regra. O mergulho do Planalto, se preciso, será no segundo turno.
A mesma razão mantém recolhida uma boa parte dos governadores. É o caso de Paulo Hartung. Um envolvimento mais explícito do peemedebista colocaria em risco anos de coalizão no Espírito Santo. Quase dois terços da Assembléia Legislativa planejam se candidatar. Roberto Requião foi além. Decidido a contratar apoio ao Senado em 2010 (e a garantir o irmão no Tribunal de Contas), recuou e obrigou o partido a recuar: o PMDB está fora do páreo em todas as grandes cidades do Paraná. Em Curitiba, o governador lançou um desconhecido, só para constar. Dessa forma, não se indispõe com o PSDB e o PT, as forças que hoje duelam pela capital e tendem a dominar o Estado.
Com a avaliação em baixa, Cesar Maia pouco poderia fazer. Mas restringir a campanha ao gabinete e aceitar o isolamento da candidata do DEM? Só se estiver mesmo jogando: 1) por Marcelo Crivella para a prefeitura; 2) pela vaga no Senado que esse resultado abriria; 3) para no futuro desempenhar um papel importante no Rio, justamente o de antagonista do representante dos bispos (e da TV dos bispos).
José Serra foge para Tóquio e autoriza o híbrido Geraldo Kassab (Gilberto Alckmin?), Aécio Neves assiste aos pleitos do PT em Belo Horizonte, Jaques Wagner assopra-depois-de-morder os aliados em Salvador... Não é por generosidade, claro. Por que logo a política haveria de servir almoços grátis?

mfilho@folhasp.com.br


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