São Paulo, quarta-feira, 18 de junho de 2008

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PLÍNIO FRAGA

Não há aposta sem risco

RIO DE JANEIRO - O episódio envolvendo os 11 militares que entregaram três jovens nas mãos de traficantes de morro do Rio -tendo sido então torturados e mortos- deveria ser visto como laboratório por aqueles que insistem na tese da participação das Forças Armadas na segurança pública.
O argumento mais comum é chamar de ilógica a não-mobilização de um contingente militar de quase 300 mil homens -sendo 190 mil só do Exército- já que o país não tem um inimigo externo a enfrentar. Usando esses militares no combate ao tráfico e na ação ostensiva de patrulhamento, haveria melhora na sensação de segurança, alegam os defensores da mudança constitucional do papel das tropas.
Os exemplos mais conhecidos de participação das Forças Armadas na segurança pública são os do México e da Colômbia, responsáveis pela distribuição e produção de grande parte da droga que circula no continente. Não podem ser tomados como um modelo, pois enfrentam hoje disputas internas de poder que os ameaçam de ser classificados como narco-Estado, tal é a monta do enfronhamento das organizações criminosas em suas instituições políticas, administrativas e econômicas.
Um general mexicano que comandava a operação antidroga no México foi preso em 1997, acusado de ser sócio de traficante que tinha uma fortuna de US$ 10 bilhões. Ao ser ouvido, o general Jesus Gutiérrez Rebollo calculava que metade das autoridades mexicanas de combate ao tráfico recebia dinheiro do tráfico. Aqui seria diferente?
O ministro Nelson Jobim vê na participação das Forças Armadas na garantia da segurança pública uma forma de obter uma ampliação significativa do verdadeiro combalido orçamento militar. Uma chance de modernização. Mas não é uma aposta temerária demais?


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