São Paulo, quarta-feira, 18 de junho de 2008

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ANTONIO DELFIM NETTO

Produto/ Capital

A HISTÓRIA do Brasil posterior à Segunda Guerra Mundial mostra: 1º) que só dois fatores, a falta de energia ou a incapacidade de sustentar as importações, podem abortar o crescimento econômico; 2º) que o crescimento depende de um "estado de espírito" produzido pela ação de um Estado-indutor, apoiado em instituições capazes de cooptar e de dar confiança aos empresários que tomam o risco de novos investimentos; 3º) a necessidade de uma enérgica ação do Estado-indutor (não do Estado-produtor) na expansão da infra-estrutura e 4º) que, uma vez estabelecidos os objetivos da política de desenvolvimento pelo Estado-indutor, o mecanismo mais eficiente para a alocação dos recursos sempre escassos é o funcionamento desimpedido dos mercados.
Não existe nenhuma dúvida sobre a ligação positiva entre a taxa de crescimento do PIB no médio e longo prazos e a taxa de investimento líqüido medido em relação ao PIB. Na pregressa reencarnação dos economistas (na Idade Média do sonho do "planejamento sem preços"), essa relação se chamava "Produto/Capital", e acreditava-se que ela era relativamente constante, em torno de 2,8 a 3,0.
A história mostrou que a crença era infundada. O avanço da tecnologia incorporada no "estoque de capital" altera sua produtividade; a mão-de-obra "aprende fazendo" o que, combinado com o aumento da educação, aumenta a sua produtividade; a ação do fator mais importante no processo produtivo -o empresário- também aprende a usar melhor os sinais dos preços do mercado para coordenar o uso mais eficiente do capital e do trabalho. Em compensação, há "descoordenações", produzidas pelos fatos da macropolítica, pela baixa qualidade das instituições e seu mau funcionamento, pela interferência exagerada da regulação no sistema de preços e no mercado de trabalho, pelo excesso e má qualidade do sistema tributário etc., que geram ineficiências no sistema produtivo.
Infelizmente, a valiosa e salvadora relação "Produto/Capital" parece ser resultado de um processo aleatório cuja média está longe de ser constante. É por isso que afirmações apodícticas, como "para crescer 5% ao ano é preciso investir 25% do PIB ao ano", têm validade duvidosa. Outro ponto interessante refere-se à precedência entre o investimento e a poupança que o financia. A poupança, obviamente, depende da "cultura" incorporada na sociedade e das instituições que aquela criou. Nas sociedades civilizadas do Ocidente, entre as quais o Brasil se inclui, há razoáveis evidências empíricas que, no desenrolar do crescimento, o investimento precede à poupança.


ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.

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