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A crise do Senado
Descrédito generalizado exige dos senadores uma resposta vigorosa e suprapartidária para revalorizar a instituição
TANTOS ABUSOS e desmandos vieram à tona no Senado Federal que se instituiu, nas palavras do
presidente Lula, "um processo
de denúncias sem fim". À constatação, feita em entrevista nesta
quarta-feira, Lula acrescentou
um vaticínio: "E depois não
acontece nada".
"Você vai desmoralizando todo
mundo, cansando todo mundo",
continuou. Para ilustrar o processo, o presidente poderia ter
mencionado o escândalo do
mensalão, protagonizado por
seu então estado-maior. Mesmo
assim, há um fundo de verdade
nessas cogitações.
Um sentimento de cansaço é
inevitável, com efeito, diante do
total descompasso entre o comportamento da maioria dos representantes brasileiros e os padrões mais corriqueiros de ética
individual.
"A crise não é minha", disse o
presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), no tenso discurso de anteontem. "A crise é do
Senado", completou -e, ainda
aqui, é preciso assinalar que há
um componente de verdade em
seu esforço de autojustificação.
A crise, de resto, não é só do Senado, mas do Congresso Nacional em seu conjunto. Mas no Senado, em particular, não se dissipa a impressão de que, da onda
de escândalos, não saiu ileso praticamente ninguém.
Quantos senadores seriam,
com efeito, preservados de cassação, se fossem aplicadas com
um mínimo de rigor as exigências do decoro parlamentar e da
moralidade administrativa?
A sociedade brasileira se vê desarmada, assim, diante de práticas de comportamento que muitos de seus representantes vinham encarando como perfeitamente normais até agora.
Se vem daí, sem dúvida, um
sentimento incontornável de
cansaço, não é menos verdade
que a crise política continua em
curso. Para superá-la, não são suficientes discursos e ações de caráter individual. Cabe a todas as
lideranças políticas da Casa firmar um consenso, com reformas
administrativas e políticas de
impacto, que possam virar definitivamente esta página constrangedora na história da instituição.
Divulgada ontem, a iniciativa
de um grupo suprapartidário de
senadores, propondo a discussão
de uma reforma administrativa
na Casa, representa pelo menos
o começo de uma resposta institucional à crise. A iniciativa escapa das tergiversações e das intrigas que, até agora, têm caracterizado o comportamento dos envolvidos.
O enxugamento radical de uma
máquina tomada de assalto pelo
empreguismo, a anulação imediata de todos os atos secretos, a
adoção de total transparência no
uso das verbas à disposição dos
representantes, a agilização da
pauta das deliberações -iniciativas dessa ordem se impõem com
urgência no Senado, para que se
dê início ao processo de recuperação do Poder Legislativo.
Se tende ao infinito o processo
das apurações das irregularidades do passado, que pelo menos
se empreendam -acima das divisões partidárias e pessoais-
ações veementes no sentido de
configurar uma nova fase para a
instituição.
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