São Paulo, quinta-feira, 18 de junho de 2009

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KENNETH MAXWELL

Brics

AS NOTÍCIAS sobre o Brasil melhoraram. O PIB no primeiro trimestre demonstrou um declínio de apenas 0,8%, muito mais suave do que o esperado. Isso se compara a uma contração de 1,8% em relação ao primeiro trimestre de 2008. Em termos mundiais, é uma boa notícia. Como resultado, o BC reduziu as taxas de juros a 9,25%, um recorde de baixa.
E o Brasil emprestou US$ 10 bilhões ao FMI, reservando esse dinheiro a empréstimos para os países menos desenvolvidos.
Somados, esses resultados econômicos e ações do governo representam uma despedida muito boa para a viagem do presidente Lula à Rússia, onde ele participou na terça-feira da primeira conferência de cúpula do grupo dos Brics, os líderes de Brasil, Rússia, Índia e China, na cidade russa de Ecaterimburgo, nos montes Urais.
Desde junho de 2007 Lula vinha apelando por esse encontro. Sua intenção, como declarou à agência de notícias Reuters antes de embarcar, era a de que os quatro países em desenvolvimento começassem a trabalhar juntos "para mudar os agrupamentos políticos e comerciais do mundo".
O acrônimo Bric foi criado por Jim O'Neill, economista-chefe do banco Goldman Sachs em Nova York. O'Neill argumentava que, nos próximos 50 anos, essas quatro nações viriam a dominar a economia mundial. Somadas, elas compreendem hoje 25% da área habitável, 40% da população e 15% da economia do planeta.
Será que se trata de uma esperança realista? Hoje os Brics somados respondem por apenas 12% do PIB mundial. Mas juntos detêm US$ 2,8 trilhões em reservas cambiais. Todos vêm criticando o papel do dólar dos Estados Unidos como moeda internacional de reserva. A Rússia detém US$ 400 bilhões em reservas cambiais e de ouro e ocupa a terceira posição mundial quanto às reservas, atrás da China (com US$ 1,534 trilhão) e do Japão.
As reservas brasileiras são de US$ 205 bilhões, e as da Índia chegam a US$ 275 bilhões.
Todos esses países cuidaram nesta semana para não dizer algo que possa causar uma crise do dólar. Mas é igualmente claro que teriam a capacidade de causá-la.
O poder dos Brics por enquanto é mais retórico que real. A economia do Brasil, ainda que seja a décima maior do mundo, atinge apenas metade das dimensões da economia francesa. No entanto, a conferência de cúpula da Rússia não deveria ser desconsiderada. A próxima reunião dos quatro líderes acontecerá no Brasil, em 2010.
Os Brics buscam, acima de tudo, uma voz mais alta nos negócios internacionais. A reunião na Rússia nesta semana foi um importante primeiro passo para atingir esse objetivo.


KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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