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CARLOS HEITOR CONY
Elogio do carro de boi
RIO DE JANEIRO - Só para dar
um exemplo. Quando Napoleão viu
que um motor a vapor podia ser
melhor, mais rápido e mais seguro
do que o vento, que até então impulsionava os navios, esnobou solenemente a tecnologia nascente,
chamou o inventor de charlatão e
ficou na dele. A Inglaterra logo se
tornaria o império que dominaria
os mares e destruiria o império napoleônico. Moral da história: não se
deve pichar e muito menos recusar
os avanços da técnica.
No jogo contra a seleção do Egito,
o juiz ia deixando passar um pênalti, que só foi marcado com o auxílio
de um quarto árbitro, que usou um
recurso tecnológico -daí resultando a vitória do Brasil por 4 a 3. O advento do videoteipe já colocou os
juízes de futebol em crise, sobretudo na marcação de impedimentos,
que podem ser esclarecidos em cima do lance.
Pergunta: até que ponto a tecnologia mudará não as regras do jogo,
mas a garantia de que elas estão
sendo cumpridas em campo? Será
um mal ou um bem? Questão em
aberto. A tecnolatria, com a assombrosa colaboração da era digital, fará mesmo o mundo melhor?
Pulando de Napoleão e do jogo
com o Egito: o recente desastre com
o avião da Air France mostrou que o
aparelho, na hora do acidente, estava totalmente entregue aos computadores, que recebiam e interpretavam informações erradas e, ao que
parece, levaram os pilotos a um
procedimento que matou mais de
200 pessoas.
No filme de Kubrick ("2001 - uma
odisseia no espaço"), um supercomputador adquire sentimentos
humanos (ciúme, medo de ser desligado) e interfere na ação programada. Hipótese: um sistema tecnologicamente avançado pode criar
um computador humanizado a
ponto de torcer pelo Corinthians
ou pelo Flamengo e interferir no resultado de uma partida ou de um
campeonato mundial.
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