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FERNANDO DE BARROS E SILVA
A sucessora
SÃO PAULO - Marina encontrou
uma fórmula feliz para definir seu
lugar na corrida presidencial: o
Brasil, diz ela, não precisa de um
"continuador" de Lula (Dilma) nem
de um "opositor" a Lula (Serra),
mas de um "sucessor" para Lula.
Mulher, negra, pobre -e "Silva".
Alguém que represente desde a biografia um avanço histórico -nem
continuidade nem ruptura- em relação ao legado de Luiz Inácio.
Muitos talvez vejam aí mais poesia que política. Como diria o jagunço Riobaldo no "Grande Sertão: Veredas": "Quem mói no asp'ro, não
fantasêia". Marina, no entanto, parece ter encontrado espaço para a
fantasia enquanto os adversários se
consomem no áspero da sucessão.
Com 12% -fora da disputa, a não
ser em caso de um cataclismo político-, a senadora verde diz ver nos
palanques rivais "500 anos de política velha". E explicita assim o seu
papel: "A gente ia fazer um plebiscito para descobrir quem é mais gerente, quem tem mais currículo. Estou aqui para quebrar o plebiscito".
Marina, na prática, não vai quebrar o plebiscito. Não agora. Mas introduz, sim, uma novidade no jogo
político: seu ponto de fuga é a convergência -para muitos impossível, para outros historicamente necessária- entre o PT e o PSDB.
Há em Marina uma naturalidade
e até um senso de humor que Dilma
e Serra não têm. Mas a novidade de
que é portadora convive, na sua
pessoa, com a jovem senhora à moda antiga -alguém contra o casamento gay e o aborto, por exemplo.
Marina, porém, qualifica suas
opções conservadoras com o elogio
e a defesa da tolerância, o que é moderno e joga a favor da vida esclarecida. Ela, de fato, lida com suas
contradições de cara lavada. Pense,
como contraponto, na prosa torcida de Dilma quando fala de Deus.
Alternativa, mas moderada, radical, mas de centro, Marina não é
como Heloísa Helena, um fenômeno circunstancial. Sua utopia está
no futuro. E ela hoje parece ensaiar
para 2014, quando, aí sim, talvez tenha chances de ser "a sucessora".
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