|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLAUDIA ANTUNES
Anos JK em Cabul
RIO DE JANEIRO - Existe na imprensa a ideia de que a maioria dos
leitores e espectadores não se interessa por política internacional devido à dificuldade -muitas vezes
real- de aproximar processos no
exterior de sua própria história.
Decorre daí que uma estratégia
para chamar a atenção para acontecimentos longínquos seja acentuar
as diferenças, sobretudo as culturais e religiosas. Uma série de best-sellers lançados após o 11 de Setembro deve o seu sucesso ao fascínio
do estranhamento.
Esse sentimento é desafiado por
fotografias que um afegão, Mohammad Qayoumi, presidente de um
dos campi da Universidade da Califórnia, postou no site da "Foreign
Policy". As imagens, dos anos 50,
retratam homens e mulheres juntos
na Universidade de Cabul, moças
numa loja de música, operários têxteis e uma hidrelétrica recém-construída -até hoje a maior obra do tipo no Afeganistão.
Como reconhece Qayoumi, as fotos não mostram a vida como ela
era para a maioria -vêm de um de
livro de propaganda do governo da
época. Mas cenas semelhantes poderiam estar num volume sobre a
classe média urbana dos anos JK.
Como aqui, no país da Ásia Central havia no período forte crença
no progresso técnico, comum ao
capitalismo ocidental e ao comunismo soviético, depois falido.
Os afegãos usavam a Guerra Fria
para captar investimentos tanto
dos EUA quanto dos vizinhos russos. Existia, como no Brasil, polarização entre conservadores e esquerdistas. Forças religiosas se
aliavam a um ou a outro lado.
Aqui, as contradições do desenvolvimentismo e da rivalidade bipolar explodiram no golpe de 1964.
Lá, na invasão soviética para sustentar os comunistas que tomaram
o poder em 1978.
Pouco antes, os EUA começaram
a apoiar os religiosos, que viriam a
ser dominantes. Mas essa é a história a que assistimos agora.
Texto Anterior: Brasília - Melchiades Filho: Que droga Próximo Texto: José Sarney: Penta e nenhum Nobel
Índice
|