São Paulo, sexta-feira, 18 de junho de 2010

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CLAUDIA ANTUNES

Anos JK em Cabul

RIO DE JANEIRO - Existe na imprensa a ideia de que a maioria dos leitores e espectadores não se interessa por política internacional devido à dificuldade -muitas vezes real- de aproximar processos no exterior de sua própria história.
Decorre daí que uma estratégia para chamar a atenção para acontecimentos longínquos seja acentuar as diferenças, sobretudo as culturais e religiosas. Uma série de best-sellers lançados após o 11 de Setembro deve o seu sucesso ao fascínio do estranhamento.
Esse sentimento é desafiado por fotografias que um afegão, Mohammad Qayoumi, presidente de um dos campi da Universidade da Califórnia, postou no site da "Foreign Policy". As imagens, dos anos 50, retratam homens e mulheres juntos na Universidade de Cabul, moças numa loja de música, operários têxteis e uma hidrelétrica recém-construída -até hoje a maior obra do tipo no Afeganistão.
Como reconhece Qayoumi, as fotos não mostram a vida como ela era para a maioria -vêm de um de livro de propaganda do governo da época. Mas cenas semelhantes poderiam estar num volume sobre a classe média urbana dos anos JK.
Como aqui, no país da Ásia Central havia no período forte crença no progresso técnico, comum ao capitalismo ocidental e ao comunismo soviético, depois falido.
Os afegãos usavam a Guerra Fria para captar investimentos tanto dos EUA quanto dos vizinhos russos. Existia, como no Brasil, polarização entre conservadores e esquerdistas. Forças religiosas se aliavam a um ou a outro lado.
Aqui, as contradições do desenvolvimentismo e da rivalidade bipolar explodiram no golpe de 1964. Lá, na invasão soviética para sustentar os comunistas que tomaram o poder em 1978.
Pouco antes, os EUA começaram a apoiar os religiosos, que viriam a ser dominantes. Mas essa é a história a que assistimos agora.


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