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ESPETÁCULO CONSERVADOR
Tem razão o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho,
ao identificar um ambiente de tensão
às vésperas da reunião em que o Comitê de Política Monetária do Banco
Central (Copom) irá decidir sobre a
insuportável taxa de juros em vigência no país. A expressão utilizada pelo ministro para se referir a esse ambiente de apreensão - "tensão pré-Copom"- contrasta, no entanto,
com a gravidade dos efeitos que a política monetária do governo tem gerado na atividade produtiva e na vida
dos brasileiros.
Em mais de uma oportunidade, o
então candidato Luiz Inácio Lula da
Silva disparou contra a suposta insensibilidade das autoridades econômicas da administração anterior.
Trancadas em seus gabinetes, elas
não perceberiam, segundo ele, que
por detrás da frieza dos números havia famílias, trabalhadores, desempregados. Lula chegou a promover
uma viagem a regiões miseráveis
com o intuito de despertar seu ministério para a dimensão humana da
realidade econômica.
O ministro Palocci parece deslumbrado com o resultado de fórmulas
que ainda recentemente eram execradas por seu partido, por tratar-se
de "política neoliberal", contrária
aos interesses dos trabalhadores. Se
o ministro tem sido acolhido com
aplausos e alívio entre representantes
dos "mercados", isso deve-se ao fato
de que a candidatura eleita para promover mudanças, inclusive na economia, com ênfase no emprego e na
produção, apenas repete, de forma
mais cautelosa, a política anterior.
Não há nada de brilhante, nem de
progressista, em combater a inflação
com doses cavalares de juros, atirando a economia num cenário de asfixia e desemprego recorde. Tampouco pode-se ver originalidade em acalmar o mercado financeiro internacional com medidas tradicionais ou
em reduzir a cotação do dólar aproveitando-se de fluxos de capitais não-produtivos. Se no início do governo
havia motivos para um "choque de
credibilidade", o que se tem assistido
ultimamente é apenas a um espetáculo de conservadorismo.
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