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São Paulo, sexta-feira, 18 de julho de 2003

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ESPETÁCULO CONSERVADOR

Tem razão o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, ao identificar um ambiente de tensão às vésperas da reunião em que o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) irá decidir sobre a insuportável taxa de juros em vigência no país. A expressão utilizada pelo ministro para se referir a esse ambiente de apreensão - "tensão pré-Copom"- contrasta, no entanto, com a gravidade dos efeitos que a política monetária do governo tem gerado na atividade produtiva e na vida dos brasileiros.
Em mais de uma oportunidade, o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva disparou contra a suposta insensibilidade das autoridades econômicas da administração anterior. Trancadas em seus gabinetes, elas não perceberiam, segundo ele, que por detrás da frieza dos números havia famílias, trabalhadores, desempregados. Lula chegou a promover uma viagem a regiões miseráveis com o intuito de despertar seu ministério para a dimensão humana da realidade econômica.
O ministro Palocci parece deslumbrado com o resultado de fórmulas que ainda recentemente eram execradas por seu partido, por tratar-se de "política neoliberal", contrária aos interesses dos trabalhadores. Se o ministro tem sido acolhido com aplausos e alívio entre representantes dos "mercados", isso deve-se ao fato de que a candidatura eleita para promover mudanças, inclusive na economia, com ênfase no emprego e na produção, apenas repete, de forma mais cautelosa, a política anterior.
Não há nada de brilhante, nem de progressista, em combater a inflação com doses cavalares de juros, atirando a economia num cenário de asfixia e desemprego recorde. Tampouco pode-se ver originalidade em acalmar o mercado financeiro internacional com medidas tradicionais ou em reduzir a cotação do dólar aproveitando-se de fluxos de capitais não-produtivos. Se no início do governo havia motivos para um "choque de credibilidade", o que se tem assistido ultimamente é apenas a um espetáculo de conservadorismo.


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