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JOSÉ SARNEY
Sair do berço
esplêndido
Rui Barbosa criou a máxima de
que "fora da lei não há salvação".
Hoje, que outros temas e outras aspirações circulam na cabeça e na esperança de todos nós, a palavra desenvolvimento passou a ter status de magia. É que sem ela não só não existe
salvação como emprego, renda, bem-estar, paz, segurança, tranquilidade
pública e futuro. Daí a necessidade de
crescer. Desenvolvimento e crescimento são farinhas do mesmo saco.
Algumas coisas são impeditivas do
desenvolvimento, como juros altos,
deflação, falta de investimento, confiança do chamado mercado e sobretudo falta de obras. Juscelino, num
tempo em que a idéia de planejamento ainda estava ligada ao dirigismo estatal, coisa de esquerda e prática do
mundo comunista, estabeleceu o seu
programa de metas, que nada mais
era do que objetivos a serem alcançados com um mínimo de complicação
e um máximo de objetividade. O governo do Juscelino não teve grandes
planos nem grande papelório. Não
havia o Plano Salt, que encantou uma
geração que achava ser aquele o caminho que o Brasil deveria trilhar para o
progresso. Adhemar de Barros, dizia o
folclore de sua figura bem representativa do velho político populista, tinha
uma estante cheia de planos, bem encadernados, alentados em páginas,
cheios de números e gráficos. Quando
alguém chegava com alguma cobrança de que ele agia sem rumos e por sua
própria cabeça demagógica, pedia,
para mostrar ao interlocutor: "Traz aí
um plano para enganar trouxa".
O Brasil está precisando de um certo
choque de objetividade e de Realpolitik. Perdemos muito tempo em pastéis de vento, discussões teóricas, dialéticas rotundas e mestres de uma
noitada de uísque, doutores do nada.
Nada melhor para não fazer nada do
que um labirinto que tem sua saída
num círculo sem saída.
Há coisas óbvias que não precisamos estudar nem especular. Fazer,
simplesmente fazer. Por exemplo: se
tivéssemos feito a Norte-Sul, o Brasil
hoje seria outro. Os tais 70 milhões de
hectares que estão esperando ser ocupados para produzir já estariam em
produção. A transposição das águas
do São Francisco ou do Tocantins-Araguaia para o Nordeste não passam
de aspirações e discussões. Se metade
dos projetos nacionais que estão parados por falta de decisão do Ibama
for solucionada, a retomada do crescimento começa. Não é que o Ibama
seja um entrave. É que ele não tem
técnicos, não tem recursos para analisar tudo o que lhe chega, e, como hoje
lhe chegam todas as obras a serem
executadas, fica tudo parado.
Se o Banco do Brasil, o BNDES, a
Caixa Econômica Federal fizessem
um mutirão de tudo o que está parado, com recursos disponíveis e entraves burocráticos, se resolvessem, mais
de um terço do desenvolvimento seria
posto em marcha. Se a burocracia e o
marasmo cedessem lugar na administração pública a buscar rápida solução para a liberação, aprovação de
projetos, retomada de obras paradas e
solução de entraves, outra parte da
paralisia do país seria transformada
em marcha acelerada.
Não se enche barriga só com especulações. As coisas pequenas, objetivas e necessárias são tão importantes
quanto as teorias.
A Europa está parada, os EUA estão
parando, o Japão está dopado, então,
vamos ficar marcando passo? Nem
tanto ao mar nem tanto à terra. Isso é
motivo de preocupação, mas o Brasil
pode andar. Não pode ficar como no
hino nacional, "deitado eternamente
em berço esplêndido".
É hora de desatar os nós.
José Sarney escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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