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MARCELO BERABA
A libertação da Maré
RIO DE JANEIRO - Aconteceu nesta semana, no Rio, um episódio que
ilustra bem a falência da política estadual de segurança.
O governo do Estado (Garotinho e
Rosinha) inaugurou, 18 dias atrás, o
primeiro quartel da PM em área ocupada pelo narcotráfico. Foi na Maré,
um complexo de 16 favelas onde vivem cerca de 115 mil pessoas.
A instalação de dois batalhões no
novo quartel foi entendida como
uma retomada da posse, pelo poder
público, de um extenso território dividido entre dois comandos criminosos. O próprio governo fez questão de
mostrar que tinha o objetivo de reocupar a área. As favelas foram inundadas de panfletos, jogados de helicóptero (igualzinho ao que fizeram
os norte-americanos no Afeganistão
e no Iraque), que pediam para os moradores confiarem na polícia e prometiam: "A paz está chegando".
Na segunda-feira passada, a população sentiu que não existe paz possível no horizonte. Ao longo de toda a
madrugada, enquanto durou uma
batalha entre as facções do tráfico,
suas vidas viraram um inferno. A reportagem da Folha contou 113 tiros
na fachada de uma das casas.
E o que fez a PM, aboletada no forte blindado? Nada, literalmente nada. O primeiro policial apareceu no
local horas depois do fim da guerra.
O presidente da Colômbia, Álvaro
Uribe, deu uma entrevista recentemente para a "Veja" em que admite
que os índices de criminalidade no
seu país continuam altos, mas destacou um feito: as guerrilhas ainda não
conseguiram tomar nenhum novo
município nestes seus primeiros 11
meses de governo. É uma vitória
num país que tem uma boa parte de
seu território nas mãos de guerrilheiros e de narcotraficantes.
No Rio, o tráfico continua a expandir o seu controle territorial. Os tiroteios, a violência e as humilhações fazem parte da vida das populações
subjugadas.
As favelas da Maré abrigam mais
gente do que 71 dos 92 municípios do
Estado do Rio. Se o governo do Rio é
incapaz de libertá-las, podia ao menos tentar protegê-las.
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