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São Paulo, sexta-feira, 18 de julho de 2003

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MARCELO BERABA

A libertação da Maré

RIO DE JANEIRO - Aconteceu nesta semana, no Rio, um episódio que ilustra bem a falência da política estadual de segurança.
O governo do Estado (Garotinho e Rosinha) inaugurou, 18 dias atrás, o primeiro quartel da PM em área ocupada pelo narcotráfico. Foi na Maré, um complexo de 16 favelas onde vivem cerca de 115 mil pessoas.
A instalação de dois batalhões no novo quartel foi entendida como uma retomada da posse, pelo poder público, de um extenso território dividido entre dois comandos criminosos. O próprio governo fez questão de mostrar que tinha o objetivo de reocupar a área. As favelas foram inundadas de panfletos, jogados de helicóptero (igualzinho ao que fizeram os norte-americanos no Afeganistão e no Iraque), que pediam para os moradores confiarem na polícia e prometiam: "A paz está chegando".
Na segunda-feira passada, a população sentiu que não existe paz possível no horizonte. Ao longo de toda a madrugada, enquanto durou uma batalha entre as facções do tráfico, suas vidas viraram um inferno. A reportagem da Folha contou 113 tiros na fachada de uma das casas.
E o que fez a PM, aboletada no forte blindado? Nada, literalmente nada. O primeiro policial apareceu no local horas depois do fim da guerra.
O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, deu uma entrevista recentemente para a "Veja" em que admite que os índices de criminalidade no seu país continuam altos, mas destacou um feito: as guerrilhas ainda não conseguiram tomar nenhum novo município nestes seus primeiros 11 meses de governo. É uma vitória num país que tem uma boa parte de seu território nas mãos de guerrilheiros e de narcotraficantes.
No Rio, o tráfico continua a expandir o seu controle territorial. Os tiroteios, a violência e as humilhações fazem parte da vida das populações subjugadas.
As favelas da Maré abrigam mais gente do que 71 dos 92 municípios do Estado do Rio. Se o governo do Rio é incapaz de libertá-las, podia ao menos tentar protegê-las.


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