São Paulo, quarta-feira, 18 de julho de 2007

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RUY CASTRO

Vaia em Julinho

RIO DE JANEIRO - Em 1959, o Brasil ia enfrentar a Inglaterra no Maracanã. Seria o primeiro jogo da seleção em casa desde a Copa da Suécia no ano anterior e, não por acaso, no seu palco favorito.
Era o Brasil de Pelé e Garrincha. Mas, se Pelé era indiscutível, a imprensa passara a semana alertando para a possibilidade de Garrincha ser barrado. Motivos não faltavam: estava gordo, lento, dispersivo e, todos sabiam, exaurira-se nos braços da vedete Angelita Martinez, o avião dos aviões. Mesmo assim, ninguém acreditava que o deixassem de fora. Na hora do jogo, quando o locutor do Maracanã anunciou Julinho na ponta-direita, os 127 mil presentes, apaixonados por Garrincha, mandaram a maior vaia da história do estádio.
Julinho também era um grande jogador. Só não fora à Suécia com a seleção porque estava na Itália e, naquele tempo, os "estrangeiros" não tinham vez. Era um homem sensível, apaixonado pelo Brasil. Acabara de ser repatriado pelo Palmeiras e fora convocado para ser reserva de Garrincha. De repente, via-se titular e ouvia a voz do Maracanã -a voz do Brasil.
Subiu chorando os degraus de acesso ao gramado e, ainda chorando, cantou o hino. A vaia não parava. Mas o jogo começou e, ali, Julinho convenceu-se de que precisava ser Julinho, não um menino amuado. Mal foi dada a saída, descadeirou um inglês com um drible. O estádio silenciou. Aos dois minutos, fez o primeiro gol. O Maracanã quase desabou em aplausos. E assim foi pelo resto do jogo: a cada grande jogada, ou se apenas tocava na bola, o Maracanã delirava. No segundo tempo, ainda cruzou para Henrique, do Flamengo, fechar em 2 x 0.
Naquele dia, Julinho foi grande na vaia, e o Maracanã, no aplauso. Os dois saíram maiores do episódio. Mas há de ser um craque para dobrar um estádio.


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