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RUY CASTRO
Vaia em Julinho
RIO DE JANEIRO - Em 1959, o
Brasil ia enfrentar a Inglaterra no
Maracanã. Seria o primeiro jogo da
seleção em casa desde a Copa da
Suécia no ano anterior e, não por
acaso, no seu palco favorito.
Era o Brasil de Pelé e Garrincha.
Mas, se Pelé era indiscutível, a imprensa passara a semana alertando
para a possibilidade de Garrincha
ser barrado. Motivos não faltavam:
estava gordo, lento, dispersivo e, todos sabiam, exaurira-se nos braços
da vedete Angelita Martinez, o
avião dos aviões. Mesmo assim,
ninguém acreditava que o deixassem de fora. Na hora do jogo, quando o locutor do Maracanã anunciou
Julinho na ponta-direita, os 127 mil
presentes, apaixonados por Garrincha, mandaram a maior vaia da história do estádio.
Julinho também era um grande
jogador. Só não fora à Suécia com a
seleção porque estava na Itália e,
naquele tempo, os "estrangeiros"
não tinham vez. Era um homem
sensível, apaixonado pelo Brasil.
Acabara de ser repatriado pelo Palmeiras e fora convocado para ser
reserva de Garrincha. De repente,
via-se titular e ouvia a voz do Maracanã -a voz do Brasil.
Subiu chorando os degraus de
acesso ao gramado e, ainda chorando, cantou o hino. A vaia não parava. Mas o jogo começou e, ali, Julinho convenceu-se de que precisava
ser Julinho, não um menino amuado. Mal foi dada a saída, descadeirou um inglês com um drible. O estádio silenciou. Aos dois minutos,
fez o primeiro gol. O Maracanã quase desabou em aplausos. E assim foi
pelo resto do jogo: a cada grande jogada, ou se apenas tocava na bola, o
Maracanã delirava. No segundo
tempo, ainda cruzou para Henrique, do Flamengo, fechar em 2 x 0.
Naquele dia, Julinho foi grande
na vaia, e o Maracanã, no aplauso.
Os dois saíram maiores do episódio.
Mas há de ser um craque para dobrar um estádio.
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