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FERNANDO RODRIGUES
Processo errático
BRASÍLIA - Merece aplauso a decisão de ontem da Mesa Diretora do
Senado. Os papéis de Renan Calheiros foram remetidos para a Polícia
Federal. Serão periciados novamente. Essa era a única saída possível no momento.
Acerto registrado, é útil também
notar o tortuoso caminho do episódio envolvendo Renan Calheiros,
cujo trâmite dentro do Senado chegou a flertar até com a ilegalidade.
Casa hermética e pouco acostumada a contestações, o Senado parece não conhecer a diferença entre
crime e quebra de decoro.
Os senadores não precisam julgar
os negócios pecuários de Renan Calheiros nem dizer se o presidente da
Casa cometeu um delito fiscal. A
Justiça se ocupará dessa tarefa. Ao
Senado basta firmar convicção sobre se um de seus integrantes teve
ou não um comportamento impróprio com o exercício da função -a
quebra do decoro.
Renan Calheiros usou os serviços
de um lobista para transportar dinheiro. O profissional comissionado trabalha numa empreiteira prestadora de serviços ao Estado. O senador quis demonstrar inocência
comprovando ter renda compatível
com os valores manipulados. Vários
documentos são de venda de boi para açougues incapazes de arcar com
tais negócios.
Renan argumenta não ter culpa
se açougues fajutos sonegam impostos. Mais ou menos. Um cidadão
comum talvez possa usar essa desculpa. O presidente do Senado tem
obrigação de conhecer quais são os
estabelecimentos comerciais com
os quais se relaciona.
Esse é o ponto. Há elementos claros atestando a quebra de decoro. A
perícia da PF tornou-se inevitável
por causa de erros anteriores de
procedimento. É um preço a pagar,
com mais demora. O caso explodiu
em 25 de maio. Não terminará antes do final de setembro. Que o Senado reflita sobre seus atos e não
empurre a crise até o Natal.
frodriguesbsb@uol.com.br
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