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ELIANE CANTANHÊDE
Cordãozinho de ouro
BRASÍLIA - O banqueiro Salvatore Cacciola chegou ontem ao Brasil
saudável, otimista e com um forte
espírito patriótico: "Eu confio na
Justiça brasileira!".
Alguém precisava mesmo confiar. Não seria a família da irmã Dorothy Stang no Pará. Nem o pai da
jornalista assassinada a sangue frio.
Nem os milhares que tiveram seus
entes queridos mortos por bandidos que andam soltos por aí.
Muito menos seriam os que, como eu, tu, ele, nós (e não eles), vemos o desfilar de réus de colarinho
branco por casas legislativas, cargos
executivos e palanques eleitorais.
Então, alguém precisava confiar,
e esse alguém é Cacciola, que ganhou um habeas corpus (HC), voou
para a Itália e, se não desse a bobeira de curtir o nosso, ops!, o seu rico
dinheirinho em Mônaco, não passaria pelo desconforto de ser devolvido em classe econômica (como
destacou o Zé Simão).
E eis aí Cacciola, confiante na
Justiça brasileira, com advogados a
peso de ouro, uma fila de pedidos de
HC e cheio de amor para dar ao país
onde teve um banco e tratamento
vip, do início ao fim. O primeiro pedido já foi atendido: nada de algema, um claro acessório de pobre.
Vamos ver, agora, a trabalheira
do Supremo julgando os HC do
Cacciola, do Daniel Dantas e sua
turma, do Naji Nahas e seus doleiros, do Celso Pitta e seus padrinhos,
aliás, ex-padrinhos. E comparar o
resultado com a média. Como informa o repórter Felipe Seligman, o
tribunal julgou no mérito 4.089 HC
de janeiro de 2007 a junho de 2008
-negou 90%.
Por falar nisso, um juiz de Fortaleza acaba de recusar um HC para o
ladrão que tentou, sem sucesso,
roubar o cordão de ouro do ministro Gilmar Mendes. O preso, de 18
anos, sem antecedentes criminais e
com residência fixa, deve ser mais
perigoso para a sociedade do que
Nahas, Pittas, Dantas e Cacciolas.
Além de bem mais baratinho. E o
cordão não era um qualquer. Era o
do presidente do Supremo, certo?
elianec@uol.com.br
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