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FERNANDO DE BARROS E SILVA
A corrupção dos outros
SÃO PAULO - Com o olhar agitado, evitando as câmeras e a multidão de repórteres, e a fala alterada,
denotando desconforto e irritação,
o presidente Lula dizia anteontem
que, "moralmente, este cidadão
tem de continuar no caso", "a não
ser que diga publicamente e espontaneamente que não quer". O que
não pode, seguia a bronca, "é vender insinuações à sociedade".
Protógenes Queiroz desde então
nada disse -nem pública nem espontaneamente. O governo decidiu
falar pelo delegado. Fez liberar
fragmentos de uma reunião gravada na PF, na qual Protógenes estaria jogando a toalha por sua escolha.
Mentira. A fala editada do outro
que não quis falar é coisa de regime
de exceção -teatrinho stalinista.
Protógenes foi afastado à revelia
de suas funções, como sabe qualquer adulto. E não caiu em função
de seus erros -muitos e graves-,
mas porque parte deles, junto com
os acertos da investigação, chegou
perto demais do coração do poder
sem que os palacianos percebessem
a dimensão da encrenca em curso.
Não foram, é claro, imagens como a de Celso Pitta de pijama e algemado o que derrubou Protógenes. Caiu porque usou arapongas da
Abin para espionar o presidente do
STF -supremo delírio. Mas sobretudo porque entrou com o grampo
no Palácio do Planalto e instalou
uma bomba perto demais de Lula.
Seu chefe-de-gabinete, Gilberto
Carvalho, foi flagrado num diálogo
pouco republicano com Luiz
Eduardo Greenhalgh, petista histórico a serviço de Humberto Braz,
capanga dileto de Daniel Dantas.
O papel vexatório de Greenhalgh
-lobista com anel de doutor- o coloca na rabeira de uma longa fila de
petistas e/ou amigos de Lula que já
caíram na folha de pagamento de
Dantas, do advogado Kakay ao
compadre Roberto Teixeira. O deputado Zé Eduardo Cardozo diz
que nada tem com isso -hummm...
O PT e o governo têm mesmo razões de sobra para se preocupar.
E a oposição tucano-democrata,
tão loquaz na condenação da tapioca, emudeceu agora, diante deste
suculento banquete de tubarões.
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