São Paulo, segunda-feira, 18 de julho de 2011

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IGOR GIELOW

De crise em crise

BRASÍLIA - A barafunda no Ministério dos Transportes teve um efeito colateral interessante para o governo Dilma Rousseff. As estripulias da turma do PR e associados são tão pirotécnicas que não tem sobrado muito tempo para questionamentos sobre como o Brasil vai enfrentar a grande tormenta que se arma na economia mundial.
É bom para o governo porque talvez não haja uma resposta clara justamente pelo ineditismo do momento. Quando um presidente americano usa a palavra calote com alguma naturalidade, ainda que seja tudo parte de um ensandecido jogo político, é sinal de que nos deparamos com um novo e incerto estágio histórico.
Somos majoritariamente filhos de uma metade de século fundada em algumas certezas. E elas inexistem hoje, obrigando pessoas e países a pensarem criativamente. A lógica da Guerra Fria está morta desde os anos 1990, e situações como a dos EUA e da Europa mostram que as regras do jogo estabelecidas em Bretton Woods são história.
É possível acreditar que os bancos daqui estejam bem blindados, que as empresas aprenderam com o caso Sadia a não brincar perigosamente com derivativos e que o governo não fez nenhuma grande bobagem. Mas a gravidade da situação da zona do euro, o apequenamento político americano e a consequente reafirmação da China compõem um cenário que não permite grandes otimismos.
O tamanho do problema é que ainda está indefinido, e em caso de catástrofe será o grande teste para um governo que ainda não disse a que veio. O ocaso do vistoso projeto do trem-bala mostra a dificuldade gerencial de uma administração que se vendia como técnica.
Assim, a crise política pode até ter ajudado o BC e a Fazenda a guardarem para si eventuais planos B para a economia, mas enfraquece o Planalto para o caso de ser necessário tirá-los da gaveta.

igor.gielow@uol.com.br


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