São Paulo, domingo, 18 de agosto de 2002

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EDITORIAIS

A RETA FINAL

A pesquisa do Datafolha para a Presidência da República, publicada hoje, tem a propriedade de exibir o balanço de forças entre as candidaturas no ponto em que elas partem para a reta final da disputa. E o "fotograma" desse estágio já bastante importante da campanha, se demostra a manutenção de dois blocos distintos de candidatos (os dois primeiros bem distanciados do terceiro e do quarto colocados), também denota um descolamento entre o primeiro colocado, Luiz Inácio Lula da Silva, e o segundo, Ciro Gomes.
Nas outras três vezes em que disputou a eleição presidencial, o candidato do Partido dos Trabalhadores nunca desfrutou de uma condição semelhante. Em 1989, 1994 e 1998, Lula jamais adentrou a fase final da campanha em primeiro lugar nas pesquisas. O ganho de quatro pontos percentuais do petista (subiu de 33% para 37%) -que não era esperado, neste momento, pela maioria dos analistas e dos agentes de mercado- deu-se concomitantemente com a diminuição de três pontos percentuais na preferência pelo candidato do governo, José Serra. O governista caiu de 16% para 13%.
Como o pepessista Ciro Gomes ficou estagnado -oscilando, dentro da margem de erro, de 28% para 27%-, pode-se aventar a hipótese de que, já antevendo uma polarização final entre o candidato da Frente Trabalhista e o do PT, uma fatia dos simpatizantes de Serra tenha migrado precocemente para Lula.
Ao candidato do governo, restou uma única ficha: arriscar tudo na vantagem que terá sobre os demais concorrentes com o início, na terça-feira, da propaganda eleitoral obrigatória no rádio e na TV. Ainda assim, não será tarefa fácil descontar, num prazo de sete semanas, uma vantagem em relação a Ciro Gomes na casa dos 14 pontos percentuais. Além disso, é possível que Serra tenha de administrar mais desavenças políticas em sua coalizão e que a sua queda na pesquisa propicie nova onda de turbulência nos mercados financeiros -um clima que dificultaria ainda mais a sua campanha.
A melhora da performance de Lula também foi verificada na simulação de segundo turno contra Ciro Gomes. Nessa hipótese de confronto final, o petista, que levava desvantagem, agora se iguala (com 45% das preferências) com o pepessista.
A permanecer a polarização entre o candidato do PT e o da Frente Trabalhista, restarão, pelo menos, uma certeza e uma dúvida em relação ao governismo. A certeza de que o governo terá sido o grande derrotado no pleito, com dois oposicionistas se qualificando para o turno final. A dúvida: saber para onde migrarão os votos e o apoio político e financeiro hoje associados ao governismo e que poderão definir quem será o sucessor de Fernando Henrique Cardoso.


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