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São Paulo, segunda-feira, 18 de agosto de 2003

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RECESSÃO VOLUNTÁRIA

Entre as causas do problema está a valorização da moeda. Em nome da ortodoxia antiinflacionária, o banco central retardou ao máximo a redução dos juros. Além do efeito depressivo sobre o investimento e o consumo, a combinação entre juros altos e moeda valorizada é fatal para as exportações.
A opção por uma política fiscal expansionista poderia eventualmente mitigar os efeitos recessivos da política monetária escorchante. Os acordos internacionais que colocam a disciplina fiscal em primeiro plano, no entanto, impedem essa opção.
O déficit público aumenta, mas como reflexo da perda de dinamismo da economia, não por um aumento de gastos para combater a recessão.
O que parece "indisciplina" fiscal obriga o BC a ser cauteloso quando se trata de reduzir as taxas de juros. Elas ficam portanto elevadas demais por tempo demais, deprimindo ainda mais a economia.
Essa armadilha, embora caiba como uma luva no roteiro seguido pela política econômica do governo Lula, instalou-se na União Européia.
O segundo maior pólo econômico do mundo mergulha numa recessão. Os mercados de Alemanha, Itália e Holanda estão encolhendo. No caso alemão, já são três trimestres consecutivos de contração, a segunda recessão em dois anos.
A situação piora para os europeus exatamente num momento em que surgem alguns sinais mais promissores nos EUA e mesmo no Japão. Também como no Brasil, os interesses financeiros mais conservadores insistem na necessidade de reformas para "desengessar", por exemplo, o mercado de trabalho e o sistema previdenciário. Elas seriam a chave da sustentabilidade econômica e do acesso a novas perspectivas de crescimento e investimento.
Na prática, a reação social organizada engrossa ainda mais o caldo. As greves na União Européia têm contribuído para o desaquecimento da economia e para a incerteza política.
É um modelo econômico e político em que as lideranças parecem patinhar numa recessão voluntária.



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