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MUITO A APURAR
Já se completaram cem dias, na
última terça-feira, desde que o então presidente do PTB, Roberto Jefferson, em entrevista à Folha, acusou
membros do governo e do PT de patrocinarem o que chamou de "mensalão" -um esquema de distribuição de recursos ilícitos a partidos e
parlamentares aliados. Nesse período, o país foi varrido por um vendaval de denúncias, revelações e inquéritos que já não deixam dúvidas sobre a amplitude da trama de corrupção em que se enredou o governo do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O que alguns chegaram a considerar uma conspiração golpista das
"elites" vai-se mostrando, na realidade, um salutar processo de desvendamento de práticas escusas que se
infiltraram por toda a República durante a gestão de um partido que vendeu ilusões aos eleitores brasileiros.
Muitos dos personagens desse deplorável desfile de ilicitudes já foram
identificados, e a primeira cassação
de mandato, a do próprio Jefferson,
consumou-se na quarta-feira. No
momento em que o ritmo das apurações dá sinais de arrefecimento e as
tentativas de manobras acomodatícias continuam em cena, é preciso
insistir na necessidade de que as investigações se aprofundem. Com
efeito, ainda há muito a esclarecer
sobre o "modus operandi" do "mensalão". Seria preciso uma enorme
dose de indulgência para acreditar
que não há mais cúmplices nessa rede de suborno de parlamentares,
captura de recursos públicos e movimentação de dinheiro de caixa dois.
É imperioso, como se tem insistido
neste espaço, que as CPIs determinem as fontes que financiaram essa
economia clandestina. É impossível
crer que elas possam ser explicadas
pelos supostos empréstimos realizados por Marcos Valério.
Doações irregulares, contratos manipulados, verbas públicas desviadas, operações financeiras fictícias,
uma série, enfim, de práticas fraudulentas está por ser esclarecida. São
também enfáticos os sinais de que o
dinheiro que irrigou o festim se encontrava -e ainda se encontra- em
paraísos fiscais fora do país.
No que concerne às fontes políticas
do escândalo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outros membros
do governo, como o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, têm sido
contemplados com a aparente disposição do "establishment" de poupá-los de investigações mais rigorosas. Vai-se configurando uma situação na qual a crise, cada vez mais, parece dizer respeito apenas ao Legislativo, como se o Executivo nada soubesse e nenhum interesse encontrasse em comprar a "solidariedade" de
agremiações de sua base.
As CPIs ainda têm uma enorme tarefa pela frente e é preciso que ela seja
levada a termo com responsabilidade, mas sem complacência. Não será
com tergiversações e panos quentes
que a política brasileira irá redimir-se
de tanta improbidade.
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