|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SABER COMPETITIVO
Já é um virtual consenso o de
que o principal insumo para o
crescimento econômico nos próximos anos será o conhecimento -e
falamos aqui de conhecimento especializado e de alto nível. Não é por
outra razão que, cada vez mais, países estão competindo por cérebros.
Não se trata apenas de produzir mais
e com menos custos -tarefa em que
os asiáticos hoje parecem imbatíveis-, mas, principalmente, de fomentar o processo inovador da maneira mais inteligente possível.
Nesse contexto, universidades adquirem importância vital. Não é exagero afirmar que os países que se
mostrarem capazes de manter as
melhores universidades terão garantido um lugar proeminente no competitivo mundo globalizado. Também não há muita dúvida de que, hoje, essa corrida está sendo vencida
pelos EUA. Com efeito, a maioria
dos rankings são esmagadoramente
dominados por instituições norte-americanas. Na já clássica lista elaborada pela Universidade Jiao Tong,
de Xangai, que combina indicadores
como prêmios Nobel e citações em
periódicos de primeira linha, universidades dos EUA ocupam nada menos do que 17 das 20 primeiras posições.
É claro que os critérios usados são
sempre discutíveis. E é evidente que
valorizam as chamadas ciências "duras" -aliás, para os efeitos de que
trata este editorial, as ciências humanas são quase irrelevantes. São, porém, os critérios disponíveis. Ainda
que configurem um pálido retrato da
realidade, dizem mais do que a atitude, tão comum entre os que não querem ser avaliados, de simplesmente
decretar a incomensurabilidade dos
modelos e escapar à crítica.
Como observou em recente editorial a revista britânica "The Economist", o maior derrotado nesse processo é a Europa, que, até algumas
décadas atrás, ainda abrigava as melhores universidades do planeta. É
até possível que os EUA não consigam sustentar sua atual posição por
muito tempo, e, embora a Europa
busque recuperar o terreno perdido,
países como Índia e China parecem
ameaças mais verossímeis para a hegemonia norte-americana.
O diagnóstico da revista é o de que
as instituições européias naufragaram por não ter conseguido adaptar-se aos novos tempos. O fracasso se
deveria principalmente às limitações
na forma de financiamento das universidades européias. Enquanto suas
congêneres americanas buscam recursos em várias fontes como governo, taxas pagas por alunos, doações
e convênios com empresas privadas,
as instituições européias dependem
quase que exclusivamente do Estado.
Esse modelo revelou-se inadequado para responder à sempre crescente demanda por educação superior.
O poder público passou a exigir que
a universidade "processasse" cada
vez mais alunos, sem, entretanto,
ampliar-lhe as verbas proporcionalmente. O resultado foi a deterioração
da qualidade. E, como as universidades dos EUA estavam em melhor situação, passaram a atrair melhores
nomes, mais alunos estrangeiros de
primeira linha e, conseqüentemente,
mais recursos. Em uma palavra,
mostraram-se mais competitivas.
Não é por acaso que são justamente as universidades britânicas, que
seguem um modelo mais próximo
do das norte-americanas, que ainda
mantêm a Europa no ranking das
melhores instituições.
Enquanto o mundo se envereda
por esse tipo de discussão, no Brasil
ainda se debate se escolas que se
saem mal em todas as avaliações devem receber dinheiro do Estado para
assegurar vagas a alunos que não obtêm lugar nas boas instituições.
Texto Anterior: Editoriais: MUITO A APURAR Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: Aberrações Índice
|