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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Um programa que jamais deve ser esquecido
São Paulo é uma bela cidade que,
infelizmente, está sendo atacada
por pichadores de paredes que praticam um verdadeiro vandalismo contra o patrimônio público e privado. A
eles se juntam os que utilizam as praças públicas para dormir, comer, lavar
roupa e fazer necessidades. Mais triste
é ver a proliferação de menores e adolescentes nos cruzamentos das ruas a
pedir esmolas e a vender quinquilharias.
O caso dos menores é muito triste
por dois motivos. Primeiro, há a dimensão humana. O lugar de menores
é na escola, em casa e em ambientes de
lazer sadio. É aí que eles aprendem os
valores fundamentais do convívio civilizado. Deixá-los nas ruas é submetê-los a um abandono que certamente
irá deformar o seu caráter.
Segundo, há a perversidade da exploração dos adultos. Dados da Prefeitura de São Paulo indicam que a maioria das crianças e adolescentes é aliciada por espertalhões que as levam às
esquinas para pedir e vender, delas extraindo, muitas vezes, mais de R$ 500
por mês. Lamentável é que muitos
desses espertalhões são os pais.
Esse quadro não pode continuar,
pois é um atestado do fracasso da geração adulta, ou seja, de todos nós. Alguma coisa precisa ser feita e pode ser
feita. As cidades de Curitiba e Porto
Alegre obtiveram um bom resultado
ao enfrentar o problema com uma
combinação de medidas educativas e
assistenciais, como a criação de um
fundo de apoio às famílias que exploram seus filhos, o monitoramento dos
menores a fim de assegurar que voltem ao lar e à escola, a articulação dos
esforços das organizações que se dedicam à educação e assistência social das
crianças e adolescentes e outras.
Em São Paulo, o grande desafio reside no fato de os menores ganharem
nas esquinas muito mais do que recebem dos programas assistenciais. A
prefeitura estima haver 3.000 menores
nos cruzamentos da cidade, onde arrecadam cerca de R$ 20 milhões por
ano. Isso significa que os adultos que
dão esmolas ou compram produtos
nas esquinas estimulam os menores a
permanecerem nessa indigna condição. Há que se quebrar o círculo vicioso da indústria da indigência, e isso
depende da colaboração da população
como um todo.
Seria desumano simplesmente negar a ajuda. É preciso transformar a
natureza dessa ajuda, tornando-a estimuladora da freqüência à escola e estada em casa. O programa que a Prefeitura de São Paulo pretende implementar a partir de outubro deste ano
vai nessa direção. O que se busca é levar os adultos a direcionarem seus recursos para um fundo cujo montante
pode chegar a R$ 240 milhões por ano,
segundo as estimativas da própria
prefeitura.
Está aí uma boa medida, que, na realidade, deveria ter sido tomada há
muito tempo. É inaceitável ver os menores sendo explorados na capital
mais rica do país assim como é intolerável assistir passivamente à pichação
dos prédios e à ocupação das praças
públicas. Oxalá o novo programa saia
do papel de modo definitivo e continuado, porque esse tipo de ação tem
de ser permanente e crescente.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
@ - antonio.ermirio@antonioermirio.com.br
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