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CARLOS HEITOR CONY
A crise e o Sacudo
RIO DE JANEIRO - Poucas vezes na história da mídia universal houve tal
e tamanha unanimidade em reprovar o mal e elogiar o bem. Não se trata da burrice banal atribuída a qualquer tipo de unanimidade. Pelo contrário: é um consenso inteligente, e
direi mais, um consenso mais do que
esforçado. Há uma concorrência feroz na disputa pela "pole position" de
quem é ou fica mais indignado.
Nos veículos da mídia, dos principais editores e formadores de opinião
ao manobreiro do estacionamento
que serve às empresas, todos se declaram estarrecidos, enojados. Nos últimos eventos da semana que passou,
com Severino, Maluf e Jefferson afinal justiçados pela cólera geral e, de
quebra, com a quebração de cara do
Bush nas enchentes de Nova Orleans,
houve alívio, a sensação do dever
cumprido, "dessa vez vamos" para o
reinado da justiça e da moral.
Não pretendo comentar temas tão
elevados. Falei acima em manobreiro de estacionamento porque me
lembrei do Sacudo, que tomava conta da praça diante do edifício da falida "Manchete", transformada em
garagem rotativa e mais ou menos
gratuita -cada um dava ao Sacudo
o que podia, ele não pedia nada.
O apelido se justificava. Ele sofria
de hidrocele, doença que atrapalhava seu passo normal, mas não influía
em seu ânimo, sempre alegre e solidário. Sobretudo solidário. Impressionante como assumia a causa dos
fregueses, fossem quais fossem as causas e os fregueses. Num Carnaval, sabendo que todas as revistas do grupo
tinham torcido pela Mangueira, que
acabou em 12º lugar, degolada pela
corrupção dos jurados daquele ano,
Sacudo era o mais consternado de todos, embora nem fosse mangueirense
nem gostasse de Carnaval.
Não sei mais por que estou lembrando Sacudo e sua indignação
contra a corrupção reinante. Deve
andar por aí, com seu imenso saco,
satisfeito porque a justiça parece que
está sendo feita.
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