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Pouca inovação
Governo anuncia R$ 510 milhões para fomentar pesquisa, mas mantém contingenciados bilhões dos fundos setoriais
NÃO HÁ governante,
candidato ou governante-candidato que
não repita platitudes
sobre a importância de ciência,
tecnologia e inovação (CT&I)
para o desenvolvimento do país.
Quem pesquisar o tema nos programas de governo dos principais candidatos, contudo, encontrará quando muito 32 linhas de
generalidades acerca da questão
estratégica. Em outros casos, o
item nem mesmo aparece.
Sinal dos tempos, ou melhor,
da esqualidez do debate na eleição presidencial. Para sorte daqueles que militam a duras penas
no setor de pesquisa, existe a
inércia. Mal ou bem, diagnósticos velhos de quase uma década
começam a produzir frutos, ainda que magros -como se viu há
pouco com o anúncio de que a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) destinará R$ 510 milhões, até 2008, para fomentar
inovação em empresas.
Há anos se sabe que o gargalo
da pesquisa brasileira se encontra na assimilação do conhecimento novo pelo setor privado.
Sem seu engajamento, descobertas deixam de transformar-se em
inovações capazes de aumentar
o conteúdo tecnológico dos produtos nacionais, acrescentando-lhes competitividade. Com a Lei
de Inovação, de 2004, as barreiras institucionais começaram a
ruir, mas faltava definir os recursos orçamentários e abrir a comporta das verbas.
Como que por gravidade, vem
agora a promessa dos R$ 510 milhões. Menos que euforia, o
anúncio pede circunspecção.
Cerca de 40% dos recursos estão
previstos já no Orçamento de
2006, mas as propostas competitivas têm de ser apresentadas até
o dia 31 de outubro -prazo exíguo. Assim, dificilmente se fará
todo o desembolso.
Ademais, a notícia da Finep
veio acompanhada de outra, negativa: o reconhecimento, pelo
governo Lula, de que não será
cumprida a meta de elevar a 2%
do PIB o investimento em CT&I.
Como informou o presidente
diante do Conselho Nacional de
Ciência e Tecnologia, o país está
na marca de 1,37%. Muito pouco,
diante do prometido e diante de
China e Coréia do Sul, cuja inversão é superior a 2%.
Lula bateu na tecla de sempre,
ao discursar diante do conselho:
"Sabemos todos que deve haver
um ciclo contínuo, sem interrupções, entre o conhecimento científico básico, tecnologias aplicadas e criação de novos produtos e
processos pelas empresas".
Ora, os fundos setoriais foram
criados, ainda no governo FHC,
exatamente com esse objetivo:
manter um fluxo continuado de
recursos para casar pesquisa e
inovação, imune aos altos e baixos das finanças nacionais. Arrecadaram-se R$ 6 bilhões, desde
então. Mais da metade permanece "contingenciada" -como que
para lembrar a todos que esta administração, como a anterior,
tem de fato outras prioridades.
A nova promessa é acabar com
o contingenciamento de recursos até 2010. Num eventual segundo mandato, portanto, mas
nem sequer uma linha sobre ela
se encontrará no programa do
presidente-candidato.
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