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JOÃO SAYAD
Como fazer
um projeto para o Brasil
PROGRAMAS eleitorais de governo não são para valer. Mas
existem projetos de boa fé. Na
semana passada, o DNA, um "think
tank", reuniu-se para discutir diferentes projetos para o Brasil.
Muitos planos esquecem que somos prisioneiros de um sistema,
como atores de uma peça clássica.
Podemos apenas fazer adaptações,
vestindo o Édipo de cantor de rap
da periferia ou escolhendo um ator
negro como Otelo para o papel de
Hamlet.
No caso de planos, a peça é o capitalismo. A versão brasileira começa com o açúcar e escravidão,
passa pelo ouro, café, abolição da
escravatura e industrialização até
1980. O último ato é a crise de dívida externa e superinflação, Plano
Real, sobrevalorização cambial e o
governo atual que adiciona juros
reais de 10% a saga da estagnação.
Sem discutir este roteirão, não há
plano.
Depois, é preciso deixar claro o
objetivo final. No momento, falta
mais república do que democracia.
República quer dizer muitas coisas: a impessoalidade do espaço
público, servidores protegidos do
governo da época, direitos iguais,
etc. E Justiça- a brasileira usa
computador como máquina de escrever.
Já cansamos do tamanho do Estado no papel de vilão. O déficit público é personagem importante,
mas seu destino depende tanto da
peça quanto a peça do seu destino.
A agenda micro- "business climate", ambiente regulatório, energia,
previdência são coadjuvantes. Sem
mudar o drama, o ator pode falar o
que quiser, mas acaba sempre com
o "ser ou não ser".
Apesar de imperfeito, o objetivo
tem que ser a taxa de crescimento
do PIB. Os governos dos últimos
doze anos não gostam de PIB. Se
viermos com qualificações (índice
de Felicidade, índice de Desenvolvimento Humano) vamos cair na
armadilha do discurso que em nome da inflação, acabou com o crescimento. Quando estivermos crescendo a 6% a.a. e depois de muitos
anos, poderemos nos preocupar
com o aperfeiçoamento da medida.
Por enquanto, não há o que aperfeiçoar.
Não perca tempo com choque de
gestão. Grandes organizações são
sempre mal geridas. Tente tirar
carteira de motorista nos Estados
Unidos, reclamar da conta de telefone ou do saldo num grande banco. É igual a repartição pública, ou
pior, pois você fala apenas com
uma gravação.
Nem se distraia com a educação.
Educação no Brasil só é chamada
de prioridade porque não é prioridade. Gastamos com juros o dobro
do que gastamos com educação.
jsayad@attglobal.net
JOÃO SAYAD escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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