São Paulo, segunda-feira, 18 de setembro de 2006

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PLÍNIO FRAGA

Videntes, jornalistas, vigaristas

RIO DE JANEIRO - Videntes e jornalistas são sucessores do profeta. Videntes e jornalistas são figuras complementares, numa sociedade em que o tempo também se tornou mercadoria -nem o futuro comporta mais a grande pergunta do destino do homem, nem o passado desfruta do mesmo prestígio como consolidação da experiência.
A correlação acima, estranha, mas perspicaz, está em "O Último Jornalista - Imagens de Cinema" (Estação Liberdade, 1997), da ensaísta Stella Senra. É um achado que surge na análise do filme "O Tempo é uma Ilusão", dirigido em 1944, por René Clair.
O filme de Clair é sobre um jornalista que obtém sucesso mediante uma vigarice temporal. Ele recebe o jornal do dia seguinte na véspera, o que o permite estar no local onde ocorrerão as notícias. O momento de conflito surge quando decide usar o jornal do dia seguinte para ganhar dinheiro nas corridas de cavalo. Esse exemplar traz também o relato da sua morte em um assalto. Como o filme é uma comédia, descobre-se que o redator do obituário havia errado -o ladrão, com os documentos do jornalista, foi quem tinha sido morto.
"Os videntes e jornalistas são profissionais de uma mesma espécie, que recorrem à intuição para sondar o tempo em busca dos acontecimentos. Sob a forma da previsão ou da notícia ambos comerciam com o tempo", explica Senra.
Parte do R$ 1,7 milhão encontrado com um petista para a compra de dossiê contra Serra veio de uma revista. Não é o viés mais importante dessa história que une mensalão e sanguessuga, como numa comédia burlesca inverossímil, mas seria de todo útil que viesse à luz essa negociata. É quando videntes e jornalistas, mesmo que não todos, complementar-se-iam na vigarice remunerada.


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