|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PLÍNIO FRAGA
Videntes, jornalistas, vigaristas
RIO DE JANEIRO - Videntes e
jornalistas são sucessores do profeta. Videntes e jornalistas são figuras
complementares, numa sociedade
em que o tempo também se tornou
mercadoria -nem o futuro comporta mais a grande pergunta do
destino do homem, nem o passado
desfruta do mesmo prestígio como
consolidação da experiência.
A correlação acima, estranha,
mas perspicaz, está em "O Último
Jornalista - Imagens de Cinema"
(Estação Liberdade, 1997), da ensaísta Stella Senra. É um achado
que surge na análise do filme "O
Tempo é uma Ilusão", dirigido em
1944, por René Clair.
O filme de Clair é sobre um jornalista que obtém sucesso mediante
uma vigarice temporal. Ele recebe o
jornal do dia seguinte na véspera, o
que o permite estar no local onde
ocorrerão as notícias. O momento
de conflito surge quando decide
usar o jornal do dia seguinte para
ganhar dinheiro nas corridas de cavalo. Esse exemplar traz também o
relato da sua morte em um assalto.
Como o filme é uma comédia, descobre-se que o redator do obituário
havia errado -o ladrão, com os documentos do jornalista, foi quem tinha sido morto.
"Os videntes e jornalistas são
profissionais de uma mesma espécie, que recorrem à intuição para
sondar o tempo em busca dos acontecimentos. Sob a forma da previsão ou da notícia ambos comerciam
com o tempo", explica Senra.
Parte do R$ 1,7 milhão encontrado com um petista para a compra de
dossiê contra Serra veio de uma revista. Não é o viés mais importante
dessa história que une mensalão e
sanguessuga, como numa comédia
burlesca inverossímil, mas seria de
todo útil que viesse à luz essa negociata. É quando videntes e jornalistas, mesmo que não todos, complementar-se-iam na vigarice remunerada.
Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: Um caso obscuro Próximo Texto: João Sayad: Como fazer um projeto para o Brasil Índice
|